Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 89

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A microfísica dos... -
Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
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maio
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ago
. 2014.
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vigilância sobre si mesmo; antes, entretanto, alguém precisa vigiá-lo
– a escola.Pode-se, portanto, associar a escola moderna a uma forma
específica de conduzir a conduta das crianças.A escola, enquanto
instituição a serviço da sociedade, atua como potente maquinaria
encarregada de disciplinar os corpos infantis, na busca constante do
enquadramento dos sujeitos. Com a normatização, a escola moderna
passa a exigir que todos internalizem o tempo que atua como medida
comum. E tal estratégia perversa, cujo alvo é a responsabilizaçãodos
próprios sujeitos pela sua adequação ao tempo escolar, acaba por
determinar aqueles que podem ou não ocupar o espaço escolar.
S
ociedade disciplinar
vs
.
S
ociedade de
controle
No breve artigo
Post-Scriptum sobre as sociedades de controle
,
Gilles Deleuze apresenta o histórico, a lógica e o programa da
transição da sociedade disciplinar, situada por Foucault nos séculos
XVIII e XIX, atingindo seu ápice no início do século XX, para a
sociedade de controle. Para Deleuze (1996, p. 220), “controle é o
nome que Burroughs propõe para designar o novo monstro, e que
Foucault reconhece como nosso futuro próximo”.Nesse ensaio,
inspirado, de certa forma, em Marx, apresenta uma filosofia política
centrada na análise do capitalismo, de modo que seu estudo pode ser
compreendido como uma analítica histórica de suas revoluções.
Uma das diferenciações entre a sociedade disciplinar e a
sociedade de controle está associada à mutação do capitalismo
contemporâneo.Para Deleuze (1996, p.222-223), o dinheiro constitui-
se num signocapaz de exprimir a distinção entre os dois modelos,
uma vez que a sociedade disciplinar faz referência à “moeda cunhada
a ouro” (servindo como medida padrão) enquanto a sociedade de
controle “remete a trocas flutuantes, modulações que fazem intervir
como cifra uma percentagem de diferentes amostras de moeda”.
Assim, “o homem da disciplina era um produtor descontínuo de
energia, mas o homem do controle é antes ondulatório, funcionando
em órbita, num feixe contínuo.” E o filósofo da diferença atenta ainda
paraa distinção das sociedades pelos tipos específicos de máquinas
utilizadas, pois, segundo o autor, elas expressamas formas sociais onde
surgem, assim como sua utilidade. Desse modo, podem ser observados
modelos sociais que se sucederam historicamente. As sociedades da
soberania, anteriores ao advento da modernidade, estão marcadas
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