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A
microfísica
dos
corpos na
escola
Kelin Valeirão
1
Avelino da Rosa Oliveira
2
R
esumo
O presente artigo trata da escola, grande máquina de vigilância da
modernidade, produto de um longo processo histórico que a coloca como
o lugar privilegiado, exclusivo e legitimado de saber. É o local onde, através
do ato de educar, os sujeitos são tirados de seu estado de selvageria.
Num primeiro momento, o artigo analisa a escola enquanto instituição
disciplinar, principalmente quando surgem, nos séculos XVII e XVIII, as
chamadas disciplinas, cujo objetivo era tornar a criança um corpo dócil e
útil ao corpo social, e a forma como estas vêm sendo utilizadas no campo
da Educação. Num segundo momento, trata da transição da sociedade
disciplinar para a sociedade de controle. Por fim, defende que a solidez
moderna está dando lugar à liquidez pós-moderna. A sociedade disciplinar,
que buscava a estabilidade através da disciplina e da docilidade dos corpos,
está dando lugar à sociedade de controle, de modo que a escola está cada
vez menos preocupada com a produção de corpos dóceis e mais ocupada
com a fabricação de corpos flexíveis, corpos que saibam jogar o jogo do
livre-mercado.
Palavras-chave: Disciplina. Corpo. Escola.
I
ntrodução
3
— “Que menino sem educação! Não tem respeito por
ninguém.”
— “Seu mal-educado, onde já se viu comportar-se dessa
maneira? É essa a educação que trazes do colégio?
Acaso é isso que te ensinam lá?”
— “Faço das tripas coração, mas hei de matricular meus
filhos naquela escola. Lá a disciplina é rígida e eles vão
ser alguém na vida.”
1 Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Instituto de Filosofia, Sociologia e Política.
Departamento de Filosofia. E-mail:
2 Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Faculdade de Educação. Departamento de
Fundamentos da Educação. E-mail:
3 A pesquisa da qual se origina o presente artigo contou comfinanciamento da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes.