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A microfísica dos... -
Kelin Valeirão e Avelino da Rosa Oliveira
C
adernos
de
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esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
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,
v
. 9,
n
. 22,
p
.79-94
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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(FOUCAULT, 1982b, p. 210).Tratar-se-ia, portanto, de colocar um
vigia nessa torre e em cada cela do anel exterior trancar um indivíduo
para que o
panopticon
pudesse substituir as masmorras. E não
apenas estas, pois o projeto do panóptico é “aplicável a qualquer
tipo de estabelecimento em que pessoas de qualquer tipo devam ser
mantidas sob vigilância, particularmente às instituições penitenciárias,
presídios, asilos de mendigos, lazaretos, indústrias, manufaturas,
hospitais, reformatórios, manicômios e escolas.” (BENTHAM, 1843,
p.37. Tradução nossa.)
Bentham, com sua estrutura arquitetônica e funcional, resolve
não somente a questão física das instituições disciplinares, mas acaba
por criar uma tecnologia da vigilância, em que indivíduos são mantidos
sob olhar permanente. Na instituição escolar moderna, tomou a forma
dos registros, observações e anotaçõesde toda a rotina da vida escolar
dos educandos, através demecanismos específicos, como, por exemplo,
as avaliações individuais. Desta forma, não é preciso obrigar o aluno a
ser aplicado, pois ele sabe que está sendo constantemente vigiado. A
disciplina, então, surge como estratégia para distribuir os indivíduos no
espaço. Para isso, entretanto, é crucial ater-se a certas técnicas, como
a clausura, o quadriculamento, as localizações funcionais, a fila etc.
Foucault(1982b, p.210), ao se referir à disciplinarização através
da estrutura arquitetônica, afirma que “cada aluno devia dispor de
uma cela envidraçada onde ele podia ser visto durante a noite sem ter
nenhum contato com seus colegas, nemmesmo com os empregados”.
Porém, somente a clausura não era suficiente para os aparelhos ou
instituições disciplinares; o quadriculamento surge, então, da busca
de poder vigiar o comportamento de cada indivíduo, saindo da análise
coletiva, pluralista. O importante era documentar individualidades.
Nesta perspectiva, era preciso que cada indivíduo ficasse em seu lugar e
que em cada lugar ficasse um indivíduo, evitando as divisões em grupo.
Para os procedimentos que visam o conhecimento como estratégia de
dominar e utilizar, importa, ainda segundo Foucault (1987, p.123),
“estabelecer as presenças e as ausências, saber onde e como encontrar
os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, interromper as outras,
poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo,
sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos.”
A escola moderna, no entanto, não tomou a si apenas a
tarefa de vigiar e conter as comunicações perigosas – enquanto
aparelho disciplinador precisava constituir-se num espaço útil, pois o