Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
60
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
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uritiba
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v
. 9,
n
. 22,
p
.43-64
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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reconhecemos a condição de possibilidade mais fundamental do
processo educativo voltado ao educando, isto é, à conquista de sua
autoestima e autonomia enquanto ser social qualificado. De modo
que, tentar disponibilizar esse espaço à educação, vale dizer, lutar
por ele na contramão das tendências atuais tornou-se, hoje, talvez
o maior desafio na área educacional.
Se atentarmos aos espaços institucionalmente não previstos,
onde ocorrem processos realmente importantes de formação,
conseguiremos perfeitamente avaliar o que está em jogo neste meu
alerta. É lutando contra a tutela legal do aparato institucional que
uma série de grupos, movimentos e subculturas, desestruturados ou
pouco organizados mobilizam-se para elaborar suas próprias matrizes
de conhecimento e postura social. O que aí predomina são, em geral,
critérios tais como solidariedade entre os membros, reconhecimento
social e abertura para e tolerância diante de modelos de vida
diferentes, critérios esses que, bem sabemos, são pouco valorizados
pelos padrões vigentes na instituição educacional. Sem idealizar esses
fenômenos recentes, a Pedagogia deveria, entretanto, tomá-los a
sério, porque são, sem dúvida, indicadores de espaços de formação
incomuns que, devido às falhas do sistema atual, multiplicam-se.
Pode-se dizer que eles representam a massa crítica do sistema, a
lembrar as perdas que se vêm sofrendo devido à equivocada estrutura
de ensino estabelecida.
Seria, portanto, em primeiro lugar, necessário corrigir a
prevalência da ética utilitarista na educação. Embora favorável para
a sociedade como um todo, quando se trata de resultados imediatos
em termos econômicos e em relação à participação social, a visão
utilitarista desperdiça, a médio e longo prazos, o capital mais
valioso de que a sociedade dispõe: a força criativa daqueles que têm
reconhecido e valorizado seu potencial produtivo e conseguem, assim,
identificar-se criticamente com a sociedade como um todo.
3 F
ilosofia
e
educação ou
filosofia
é
educação
O título deste parágrafo anuncia minha proposta de revisar
o rumo da Pedagogia contemporânea. Conforme já exposto em
“Para que Filosofia da Educação – 11 teses”,
11
penso ser necessário
recuperar a filosofia no processo educativo, de modo a trazer a
11 Revista Perspectiva, ano 16, nº 29, UFSC, Florianópolis, pág. 15-22.