Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 50

Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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. 2014.
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relativa autonomia que lhes é dada na decisão do que os interessa, na
assunção de compromissos e na construção de seu ambiente social.
Também eles, aliás, enquanto universitários, precisarão de ajuda
para abandonar a postura escolar, caracterizada em larga medida
pela lógica da ‘instituição total’ (Erving Goffman) ainda vigente
nas escolas. Pois, afinal, a capacidade de compreender e passar
a formular os próprios interesses nasce da destruição das antigas
certezas. Os jovens universitários precisarão de ajuda, sobretudo
para lidar com a nova liberdade intelectual – antes muito restrita –
que a Academia deverá agora exigir deles. Sendo assim, penso ser
imprescindível prever e incentivar, na primeira fase dos currículos
acadêmicos, um espaço de irritação produtiva tanto em relação às
diretrizes vigentes no passado escolar quanto no que diz respeito
aos caminhos que, a partir daí, abrir-se-ão aos jovens estudantes.
Surpreendentemente, porém, em oposição justamente a essa minha
argumentação, temos verificado, nos últimos anos, que as políticas
no âmbito acadêmico vêm optando por regulamentos restritivos
justamente no que se refere a essa autonomia dos educandos
e à liberdade intelectual, que se deveria exigir em especial nas
universidades.
5
O que representa, obviamente, um passo atrás na
dita educação de nível superior.
Com os dois exemplos citados acima, acredito ter tornado
palpável a necessidade de pensar, ao menos em nível universitário, um
espaço de incentivo básico inicial ao impulso natural de
desorientação
próprio ao homem em todo o seu percurso de vida. Parece-me, na
verdade, que a educação no seu todo não só não deve, como não pode
ser pensada sem ele. Ela não deve ser organizada sem ummovimento
de revisão e, onde se fizer necessário, de abandono das diretrizes
anteriormente consideradas adequadas ou corretas. A dupla tarefa
a realizar no processo educativo seria a de: a) a partir do incentivo
à desorientação dos educandos em relação às certezas habituais e a
um seu contínuo questionamento crítico pelos mesmos, b) ajudá-los
a construir sua autonomia e autoestima. Educar significa, portanto,
primeiro, levar o jovem a desajustar-se em relação à sua orientação
anterior; para que ele, após, e também com o apoio e auxílio do
5 As queixas sobre os resultados do assim chamado ‘Processo de Bolonha’, na Europa,
são bem fundamentadas por W. Neuser em O Processo de Bolonha e sua implementação
na Alemanha ou em Inovação e empreendedorismo na universidade: Innovation and
entrepreneurialism in the university. [org. Jorge Luis Nicolas Audy, Marília Costa Morosini].
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. 461p.
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