Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 49

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Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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maio
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. 2014.
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Insisto em que a experiência de ter o solo firme das velhas
orientações abalado deveria tornar-se parte essencial de toda e
qualquer aprendizagem, porque essa dependência mútua entre fases
de orientação e desorientação normativas é algo que se verifica
naturalmente na existência de cada indivíduo, como procurarei
mostrar nos dois exemplos, a seguir. O primeiro exemplo remete
a experiências que ocorrem na infância de cada um. A criança
vive, inicialmente, em espaço delimitado, determinado e protegido
pelos adultos; sem dar-se conta disso, ela se encontra já sempre
mergulhada e entrosada no seu mundo. Quando começa a descobrir
o ambiente social fora do anterior bem ordenado em que vivia, ela
percebe o mundo como que oscilando nos eixos e, consequentemente,
como enigmático; curiosa, ela irá procurar entendê-lo. O modo como
o faz é colocando (de modo insistente e, às vezes, irritante para os
adultos) as indefectíveis perguntas pelo “porquê” do que a cerca, o
que a leva a novas experiências. Do ponto de vista pedagógico, nada
é mais importante do que tomar essas perguntas a sério, pois dando
respostas à criança, os adultos facilitam seu acesso ao desconhecido.
Para a criança, cada resposta a um “por que?” acerca de seja o que
for, ajuda-a a entender o novo mundo em que agora se insere e a
posicionar-se em relação a ele. Tais avanços ou conquistas serão,
entretanto, alcançáveis apenas se a criança aceitar o risco de abrir
mão das antigas ordenações apaziguadoras; sim, se aceitar o risco
de deixar-se afundar no novo espaço e formular as perguntas que,
só elas, a levarão às experiências enriquecedoras. O preço é alto,
a criança irá sofrer com a perda das velhas certezas; mas por meio
dessa perda, irá descobrir-se também em sua própria medida e suas
conclusões não serão mais ditadas pelo parâmetro dos outros. E
caberá aos adultos ampará-la nesse processo, deixando-a porém
encontrar, no tanto que possível, o
seu
caminho.
O segundo exemplo traz a passagem da escola para a
universidade. É indiscutível que, se o novo nível em que o jovem irá
ingressar, isto é, o da Academia, estiver apto a oferecer experiências
de formação ‘sui generis’ aos educandos egressos das escolas –
diferenciando-se, efetivamente do caráter e da qualidade existentes
no ensino escolar – haverá de confrontá-los com diretrizes novas e
menos rígidas do que as anteriores. A Academia representa, de fato,
um novo espaço, menos estruturado que o da escola e caracterizado
pela liberdade maior dos alunos na escolha de trabalhos, além da
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