Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 54

Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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. 2014.
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educativo de extrema importância, parece-me remeter justamente
a isso. O que os gregos nomeavam o ‘eros pedagógico’ aponta, em
meu entender, para aquela difícil relação de concordância e disputa
simultâneas, que se estabelece entre o educador e o educando
em toda relação educacional
real
. Hoje, porém, o incentivo à
educação a distância (sem querer entrar na discussão quanto a sua
necessidade e benefícios), a priorização da leitura em detrimento
do ouvido (a palavra ‘auditório’ vem perdendo o sentido originário),
a ampliação excessiva das disciplinas com a consequente redução
do tempo disponível dos educadores para atender problemas de
ordem comportamental e social dos educandos (tanto nas famílias,
quanto na escola ou nas demais instituições de ensino), o avanço
da tecnologia de informática e o domínio das demandas objetivas
do mercado de trabalho – todos esses fatores fazem com que as
políticas educativas percam de vista essa interpretação da educação
enquanto espaço de experiências sociais.
A corrida pela objetividade científica influencia também as
políticas de educação, que preferem dedicar-se ao trabalho com
parceiros bem definidos e calculáveis. Um olhar atento às políticas
estatais revela que os esforços de reduzir as diferenças mais gritantes
do sistema educativo dirigem-se às instituições tradicionais. Os
investimentos crescentes nas políticas que beneficiam a família, os
experimentos contínuos com novos modelos da educação escolar,
os passos para ampliar o acesso à formação acadêmica – tudo
indica que as intervenções dirigem-se, preferencialmente, a espaços
reconhecidos mediante regras jurídico-legais de organização e
atuação dos mesmos. Falta, no entanto, a preocupação do sistema
educacional com a entrada em cena de agentes sociais que, mesmo
pouco estruturados ou legalizados, exercem função educativa
crescente. Tenho aqui sobretudo em mente os movimentos sociais,
peer-groups, subculturas juvenis e as comunidades informais da
internet, entre outros. O desamparo da Pedagogia atual em relação
a esses fenômenos é, na verdade, não só óbvio, senão também
compreensível. Pois, enquanto espaços e desdobramentos abertos,
fica difícil torná-los objetos manejáveis. Eles fogem, naturalmente, ao
controle de uma Pedagogia, cujo instrumentário principal é dirigido
a espaços bem estruturados e acessíveis à atuação burocrático-
legal. Precisamente por isso, ao que parece, esses novos atores ‘não
controlados’ destacam-se na criação de saberes inovadores e hábitos
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