Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 48

Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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. 2014.
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parte, concorrem entre si e nem sempre são compatíveis: desde a
infância, no seio da família, passando pelo contexto escolar e a fase
de profissionalização até a integração no mercado de trabalho e a
velhice – para mencionar apenas os estágios mais gerais – o indivíduo
enfrenta diversas fases de vida, com as quais tem de se haver e as
quais precisa aprender a manejar. Aí, entra a educação que, com
vistas ao crescimento e à conquista e preservação da autonomia do
indivíduo, ajuda a prepará-lo para enfrentar esses desafios.
A um primeiro olhar, a tarefa parece ser clara e fácil de
cumprir. Além do ensino de um amplo leque de disciplinas, a
educação recorre a diferentes meios visando capacitar os educandos
a orientar-se e a conseguir integrar-se em seu ambiente social. O
caminho à primeira vista mais cômodo para alcançar esse objetivo é
aquele que ensina os educandos a adequar-se às novas diretrizes de
comportamento. Por menos complicado que pareça esse caminho,
seu déficit, contudo, salta aos olhos: ele perde de vista o objetivo
por excelência da educação, que é o de levar os educandos a
conquistar sua autonomia e autoestima. Porque é óbvio que,
levados a adaptar-se a normas pressupostas de comportamento,
os educandos não questionarão a legitimidade das mesmas,
tampouco buscarão para si caminhos próprios de orientação.
No entanto, é exatamente essa chance de colocar em dúvida a
validade das orientações tanto tradicionais quanto novas – a que
chamo
espaço de desorientação
–, que lhes dará a oportunidade
de tomar consciência de sua própria liberdade de decidir e agir.
Faltando esse espaço, restará ao educando apenas aceitar, sem
crítica, as normas institucionais. Para evitar esse risco, a saber, o
risco de levar o aluno a submeter-se a instâncias externas, defendo
a seguinte tese:
uma fase de desorientação intelectual profunda
deveria preceder a todos os passos de reorientação dos educandos.
Estou convicto de que os mesmos só aprenderão a emitir juízos
próprios fazendo uso da oportunidade de questionar e colocar
em xeque o sentido das certezas anteriores ou daquelas impostas
de fora. De modo que apenas exercendo o “e(x)-ducere”, isto é,
levando o indivíduo para fora do estágio de certezas habituais ou
induzidas, estaremos respeitando seu ritmo peculiar em direção à
própria autonomia e autoestima. O que se cumprirá apenas se os
educadores não impuserem ao educando, de modo ditatorial, a sua
preferência pessoal quanto à validade das diretrizes a seguir.
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