A constituição do campo ... -
Antônio Joaquim Severino
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.21-42
maio
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. 2014.
Disponível em <
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aqueles contemporâneos que convivem conosco, mas em diferentes
espaços sociais, numa mesma temporalidade.
Assim, ao filosofar sobre a educação cabe enfrentar, com os
recursos e instrumentos do conhecimento, a prática educacional
concreta, historicamente determinada (SEVERINO, 2001). Este é
o grande desafio que se impõe ao campo filosófico-educacional,
para cujo enfrentamento a contribuição dos pensadores que nos
antecederam no tempo ou que compartilham conosco a atualidade
no espaço geográfico e cultural, é fundamental e imprescindível,
mas apenas na medida em que o intercâmbio tome a forma de
um diálogo intenso que nos subsidie na compreensão da realidade
atual da educação, e, especificamente, da educação brasileira
4
.
Há que se entender a démarche filosófica como uma contínua
recolocação dos problemas que afetam a humanidade bem
como uma permanente reavaliação crítica das respostas que lhe
são dadas ao longo do tempo histórico. De um lado, porque os
problemas emergem sempre, de forma específica, a cada época
histórica, sob novas circunstâncias socioculturais que estão
sempre em constante transformação. De outro lado, porque as
“respostas” aduzidas em cada época pelos diferentes pensadores
não são absolutamente garantidas como verdadeiras. Assim como
a própria existência humana, as ideias humanas são também
históricas. Quando um produto do pensamento pretende-se como
verdade absoluta, definitiva, recusando a própria historicidade,
ela se torna expressão dogmática, deixando, por isso mesmo, de
ser filosófica.
Colocar o trabalho filosófico nesse horizonte de temporalidade
histórica não compromete sua relevância e validade. Ele continua
imprescindível para a busca de “sentidos” sob os quais os vários
aspectos da existência são apreensíveis nos vários momentos
históricos, viabilizando assim a intervenção da prática significativa
dos homens sobre o seu mundo.
4 Ao se discutir os caminhos que a Filosofia da Educação deveria seguir para enfrentar seus
desafios históricos, seria o caso de se referir às várias propostas que vêm sendo avançadas
quanto a seu estatuto epistemológico, colocando uma problematização diretamente
relacionada com o objeto deste ensaio. Para citar apenas algumas posições de destaque,
cabe referirmo-nos a Silvio Gallo (2000; 2007), Pedro Pagni (2011a; 2011b), Cristiane Marinho
(2014), Cláudio Dalbosco (2009;2010), Valter Kohan (1998), Mazzotti (1999; 2000), Severino
(2004). No entanto, não há espaço neste texto para se explicitar e debater todos estes
posicionamentos, relevantes, sem dúvida, para a discussão da configuração da identidade
do campo. Por isso, limito-me a remeter o leitor interessado às obras citadas.