Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 28

A constituição do campo ... -
Antônio Joaquim Severino
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. 2014.
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Filosofia da Educação não é, por definição, uma ciência no sentido
clássico do termo, e nem deve tornar-se tal. A expressão “campo
disciplinar” é, sem dúvida, mais adequada desde que retiremos
dela a condição exclusiva de ser matéria puramente destinada ao
ensino. O que está em pauta é a possibilidade e a viabilidade de um
modo próprio de conhecimento, detentor de um objeto tematizável
e de uma via epistêmica de abordagem. Entendo, então, que essa
tarefa epistemológica da Filosofia da Educação não está superada,
convergindo com Pagni e Dalbosco quando dizem, no referido
Histórico, que precisamos continuar refletindo “sobre as condições
de validade do conhecimento produzido” (p. 22).
Por outro lado, a tarefa de reflexão sobre a modalidade e a
validade de um conhecimento próprio da Filosofia da Educação é
também diferente da outra tarefa que compartilhamos com todos
os estudiosos da área educacional que é a discussão sobre um
possível estatuto científico da própria educação. É verdade que nos
cabe participar desse debate, com toda legitimidade, mas isso não
nos exime, ao contrário, nos incumbe com agudizada incisividade,
de pensarmos a natureza da nossa própria abordagem epistêmica.
É um inevitável momento metafilosófico.
Feitas estas ressalvas, avanço aqui em direção a alguns critérios
que podem nos ajudar a entender como se trama a constituição, em
geral, de um campo de conhecimento em determinada área. Para
tanto, busco apoio em trabalho de Carlos Marcelo Garcia (1999,
p. 24-26), que propõe cinco indicadores para atestar a delimitação
do campo de formação de professores, indicadores que adapto a
nossa problemática: existência de objeto próprio, uso de metodologia
específica, uma comunidade de estudiosos que define um código de
comunicação próprio, integração dos participantes no desenvolvimento
da pesquisa e reconhecimento da formação de professores como um
elemento fundamental na qualidade da ação educativa, por parte
dos administradores, políticos e pesquisadores.
Aplicando cada um desses indicadores a nossa problemática,
podemos identificar algumas condições que se fazem necessárias
para tal. Na verdade, tais condições atuam simultaneamente como
requisitos e como indicadores
A primeira é, certamente, a delimitação de um núcleo temático.
No caso da Filosofia da Educação, esse núcleo se constitui em torno
das dimensões epistêmica, axiológica e antropológica do processo
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