Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 37

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A constituição do campo ... -
Antônio Joaquim Severino
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de uma cultura, acaba por apoiar-se no imediato e no contingente
descartando qualquer referência a um estatuto ontológico privilegiado.
Não passa mais de constructos, de jogos de linguagem, sem sujeitos”
(2009, p. 589-590; 2001, p. 13). Tematiza, assim, a falta de confiança
na razão capaz de constituir sistemas de pensamento e de ação
baseadas em normas justas e coerentes. Faz estado do “mal-estar
epistemológico” que, em seu profundo ceticismo e desencanto,
compromete não só a possibilidade mas também a legitimidade de
um conhecimento sólido sobre a educação bem como a consistência
do procedimento investigativo que o constrói. (2001).
O desafio fundamental que se coloca à Filosofia da Educação
é enfrentar a radical aporia que se apresenta na própria condição
ontológica da educação: ao mesmo tempo em que ela se realiza
substantivamente como prática, ela só se desvela pela mediação
do saber da teoria. São equivocadas as opções pragmatistas, ao
proporem para a educação a mera transmissão de um saber fazer
técnico e utilitarista, funcional para a manipulação do mundo.
O resgate do pensamento filosófico-educacional historicamente
registrado é mediação preciosa para a formação do profissional da
educação. Este resgate do pensar filosófico do passado, daquilo
pelo que ele se tornou clássico, tem fundamental importância desde
que ele nos subsidie na compreensão das articulações de nossa
experiência atual. Nossa experiência contemporânea só ganha
significado se relacionada a esse devir, o mesmo que nos lança rumo
ao futuro, ou seja, instaurar o sentido hoje só se legitima enquanto
esclarecimento para o direcionar de nossa existência futura, como
investimento na continuidade da construção do futuro da espécie.
Por isso, o exercício do filosofar implica um diálogo especial
com os pensadores do passado e também com os pensadores
contemporâneos. Num caso como no outro, não estamos diante de
um produto
sui generis
do qual nos apropriaríamos para uma espécie
de fruição egocêntrica, mas de um processo de pensamento, de
reflexão, de indagação, que busca esclarecer o sentido de todos os
âmbitos de nossa experiência, mesmo quando já significados pelo
senso comum ou pelas ciências.
Só podemos aprender a pensar, pensando, mas, para nós,
pensar implica também retomar aquilo que é resultante do já
pensado. Esta é a justificativa e a significação mais profunda do
diálogo com os pensadores que nos antecederam no tempo e com
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