Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 36

A constituição do campo ... -
Antônio Joaquim Severino
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. 2014.
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na discussão do estatuto e do papel da Filosofia da Educação.
Preocupava-se com o recuo da teoria na pesquisa educacional em
consequência do que investiu sua reflexão no sentido de avançar um
completo programa de trabalho para a Filosofia: assumir, também
na esfera da educação, uma teoria que proceda “à análise crítica do
existente, que informe a prática científica consciente de si mesma,
pois é o processo histórico-crítico do conhecimento científico que
nos ensina (como seres sociais) a capacidade emancipatória da
teoria, que nos torne conscientes de nosso papel de educadores
que não ignorem que a transmissão do conhecimento e da verdade
dos acontecimentos é um instrumento de luta e tem a função de ser
mediação na apreensão e na generalização de conhecimentos sobre
a realidade objetiva, sob a perspectiva do domínio sobre a realidade
segundo as exigências humanas” (2009, p. 603-604).
Por isso mesmo, quando se coloca a questão da responsabilidade
da Filosofia da Educação, enriquece sobremaneira sua contribuição.
A tese que decorre de sua reflexão é que cabe à Filosofia da Educação
a luta incessante pelo retorno da teoria no processo investigativo na
área da educação. Desenvolve uma abrangente análise dos rumos
tomados pela cultura contemporânea em função do fenômeno
da globalização, sob as determinações do capitalismo com sua
agenda neoliberal. Identifica e denuncia o amplo processo de
desqualificação do conhecimento e da teoria que vem ameaçando
as ciências humanas, em geral, e a educação, em particular,
mediante uma atitude indelevelmente passiva e a-crítica frente
“à complexa e intensa dinâmica do dia-a-dia, reduzida a campo
percepções sensíveis, da negação do real como composto por
intrincado conjunto de estruturas geradoras” (2009, p. 602-603).
Além do recurso à tradição dialética clássica, apoia-se em subsídios
de autores atuais, como Norris (1996), Bhaskar (1979; 1986; 1993;
1997), Thompson (1978; 1981) para caracterizar e criticar os
rumos que tem tomado a contemporânea teoria do conhecimento
científico, denunciando seu deslizamento para uma “epistemologia
da prática”, centrada na referenciação priorizada à empiria, por
força das determinações da macro-reestruturação socioeconômica
produzida pelo referido processo de globalização e pelo liberalismo
capitalista hegemônico.
Na sua avaliação, esta epistemologia da prática reduz todos os
discursos a “simples relatos ou narrativas que, presas às injunções
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