Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 33

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A constituição do campo ... -
Antônio Joaquim Severino
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Mas, isso não dá inteira conta da identidade e do estatuto da
Filosofia da Educação uma vez que se questiona o próprio estatuto do
que vem a ser reflexão, conhecimento, pensamento, filosofar, abordar
filosoficamente. A própria noção de filosofia como conhecimento
parece ser questionada. Poucos praticantes da Filosofia da Educação
preocupam-se em explicitar esta questão, deixando-a implícita ou
pressuposta. (SEVERINO, 2000) Mas, ela passa a ser colocada com
mais frequência e incisividade. O questionamento reporta-se ao
próprio ato de conhecer, de pensar, de refletir. A educação não é a
questão primeira, mas o filosofar sobre ela. A ênfase na educação
como vontade de transformar o homem, lança um repto à pretensão
da Filosofia da Educação. Afinal, como podemos filosofar sobre a
educação, onde se apoia e se sustenta esse filosofar com essa sua
pretensiosa ambição?
Além de enfrentar este primeiro desafio, a Filosofia da
Educação deve enfrentar aquele do próprio sentido do conhecimento
educacional. Trata-se de discutir, então, o alcance da restrição à
cientificidade do conhecimento educacional, em geral. Isso quer
dizer que ainda permanece compromisso inesgotado da Filosofia da
Educação refletir sistematicamente sobre qual sentido cabe atribuir
ao empreendimento de um possível saber rigoroso e metódico
sobre a educação. Até que ponto esse fenômeno pessoal e social,
marcado por um caráter radicalmente práxico pode ser objeto de um
conhecimento tão formal e esquematizante como aquele definido
pelo paradigma científico de matriz newtoniana. Essa condição
de praxidade da educação põe em questão a própria inserção de
uma Ciência da Educação no rol das Ciências Humanas, nascidas
estas que foram da própria pretensão em se objetivar e naturalizar
a conduta humana. Mas, para fazer isso, é preciso retirar dessa
conduta exatamente aquilo que especificaria o sujeito humano. Ora,
no caso do fenômeno educacional, retirar dele essa intencionalidade
significadora e teleologizante, é retirar toda sua especificidade que
lhe confere seu modo de ser próprio.
E, aqui, já se coloca uma outra complicação. É que reconhecer
a inadequação do paradigma científico clássico para dar conta do
fenômeno educacional, não pode implicar a adoção automática
do ponto de vista filosófico da assim chamada pós-modernidade,
relegando a educação ao universo da economia do desejo, do
afeto, do puro sentimento. Em que pesem as ricas intuições desse
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