Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
44
C
adernos
de
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esquisa
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ducacional
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n
. 22,
p
.43-64
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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habitual das investigações pedagógicas, dedicadas ao levantamento
e à interpretação de fenômenos empíricos no campo educacional,
ela insiste em levar a Pedagogia a reassumir sua tarefa originária e
pretende que esta volte a refletir acerca da dinâmica dos processos
educativos em seu ambiente sociocultural, de modo a revelar os
impulsos e riscos para a práxis pedagógica que daí nascem.
Contudo, por mais louvável que seja essa opção em favor de uma
‘Filosofia da educação’, corre-se comela o risco de reforçar precisamente
a tendência, contra a qual a mesma se estaria opondo, a saber, a
tendência de separar o espaço de reflexão da prática educativa. E, nesse
caso, estar-se-ia fazendo implementar, na práxis dos profissionais, apenas
os resultados da reflexão teórica, sem que os próprios (profissionais)
cheguem sequer a participar na sua elaboração.
Para fundamentar o que estou afirmando, retomarei a seguir,
em um primeiro parágrafo, observações com as quais gostaria de
chamar a atenção a algumas características da teoria pedagógica
que, pouco lembradas nos debates entre os pedagogos, sustentam
na discussão atual a primazia do nível empírico sobre o teórico. No
segundo parágrafo, serão tratados aspectos que apontam em direção
ao rumo das revisões necessárias.
1
A
sobrevalorização
da
prática
pedagógica
.
Entre as condições que me parecem ter contribuído para o
distanciamento entre a teoria e a práxis pedagógica, menciono, pelo
menos, quatro.
Primeiro
: a Pedagogia como área científica, que hoje lamenta a
perda do contato íntimo com a prática educativa, não poderia,
na verdade, queixar-se, pois, ao longo das últimas décadas,
ela mesma apressou-se em absorver os resultados das ciências
mais avançadas, sobretudo das áreas humanas e sociais. Isto
é compreensível caso tenhamos em vista que, além de querer
combater o rótulo de conservadora, a Pedagogia tentava
legitimar sua cientificidade. Contrariando as ideias e matrizes
de outras áreas científicas – da Sociologia, Psicologia, Economia,
Neurociências etc. – ela lançava-se a altos voos teóricos; mas
deixava para trás, simultaneamente, um aspecto central de sua
respeito. Várias publicações (A. Cenci, C.A, Dalbosco, N. Hermann, A. Oliveira, A.Trevisan)
documentam a demanda pela reflexão filosófica na Pedagogia.