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Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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. 22,
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.43-64
maio
/
ago
. 2014.
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últimas a serem aceitas por todos. Não se tem, ademais, espaço
tampouco motivação para o questionamento desses conhecimentos,
menos ainda, para levar a despertar o espírito crítico dos participantes.
Ensinar significa, neste caso, apresentar conteúdos como já avaliados
e acertados definitivamente. As consequências disso são óbvias:
a aprendizagem torna-se um processo de consumo de conteúdos
tidos como verdadeiros, a redação de um texto torna-se uma sua
reprodução acrítica e o ensinamento uma mera apresentação de
fatos, teses ou teorias já prontas. O diálogo entre os envolvidos torna-
se não mais do que doutrinação por parte de quem supostamente
sabe, e assim por diante.
Na mesma linha apodítico-objetivista, inscrevem-se os
programas de ensino e os currículos. Embora resultados de
pesquisas sofisticadas, sua função é mais do que duvidosa. Além
de os programas definirem de antemão o “produto” a ser formado,
o educador tem de submeter-se à prescrição do que deverá fazer
no processo educativo; o seu papel vê-se, portanto, desfigurado
no de simples agente de um procedimento a ele imposto, o qual
funciona como espécie de espartilho, roubando-lhe grande parte
da espontaneidade. E mais, aquele educador que falhar nesse
procedimento ditado de fora, será imediatamente desqualificado
como profissional. O que aí prevalece são sempre os critérios do
jogo burocrático-formal; e, em relação a este, tanto a formação
do educando quanto a habilidade profissional do educador ficam
em segundo plano. Sendo assim, não surpreende que, na opinião
daqueles profissionais que ousam andar na contramão das regras
impostas, o educador de valor – e valente também! – seja aquele
que, driblando o jogo burocrático, realiza de modo independente a
tarefa pedagógica considerada essencial.
Talvez se possa dizer que o verdadeiro ‘calcanhar de Aquiles’
da organização do ensino atual consista na sua grande dificuldade
de preservar o caráter da educação tomada enquanto
experiência
social
. Sem querer diminuir o papel do educador na sua função de
transmitir conhecimentos, capacitando os educandos a orientar-
se num mundo cada vez mais objetificado, vejo na educação a
abertura de um espaço social, no qual os educandos devem iniciar-
se na multiplicidade dos jogos sociais, com a maior variedade de
opções de postura e entrosamento possíveis. A ideia tradicional de
formação, ao destacar o aspecto (inter)-subjetivo como referencial