Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 57

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Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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maio
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. 2014.
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pedagógicos assumem características que, de modo crescente,
assemelham-se àquelas das instituições totais. Mais e mais, os
critérios institucionais conseguem sobrepor-se às ideias pedagógicas
que interpretem os envolvidos como parceiros de experiências sociais.
Os próprios educadores perdem seu impulso inovador frente ao
poder das regras burocráticas e mesmo o diálogo serve, não raro,
também à estratégia denunciada como “tolerância repressiva” por
Herbert Marcuse. Busca-se, nesse caso, o consenso formal dos
interlocutores unicamente com o objetivo de legitimar a posição
institucional já existente. Um outro exemplo – próximo ao anterior –
pode ser qualificado como o que denomino uma
despersonalização
do processo educativo. Quero indicar através disso que, restringindo
o ensino à mera oferta de matérias bem delimitadas, a educação
esquece a formação pessoal dos educandos, que se realiza, antes de
tudo, mediante o convívio social. Qual professor já não terá feito a
experiência de que o empenho dos alunos depende do tipo de relação
que se desenvolve entre ele e os educandos, relação essa da qual
depende também a atmosfera na sala de aula! Não só a este nível,
contudo, constata-se, hoje, devido aos fatores enunciados acima,
uma crescente dificuldade em satisfazer nebulosas expectativas
intersubjetivas, que são, sem dúvida, o fermento de toda a educação
satisfatória. Sejam os educadores que, obrigados a dar prioridade
às exigências curriculares, perdem de vista as condições individuais
e sociais dos alunos; sejam pais e mães que, não conseguindo estar
presentes na vida estudantil dos filhos por toda sorte de motivos, não
conseguem acesso ao seu mundo; sejam os professores universitários
que, assoberbados pelas exigências do ensino burocratizado, deixam
de dialogar com os educandos – tudo advém daqueles equívocos na
interpretação do ensino e das consequências desse equívoco. Cabe
mencionar, aqui, também os riscos do ensino a distância, pois, via
de regra, o seu procedimento impede o diálogo vivo enquanto meio
privilegiado de experiências sociais.
E eis, por fim, o último exemplo que diz respeito às consequências
questionáveis do avanço da racionalidade técnico-instrumental e,
com este exemplo, pretendo chamar atenção à esquisita permuta ou
confusão entre realidade e mundo virtual. “Reality show” é o conceito
inglês, de que me utilizo aqui para apontar essa confusão. O pivô
desse fenômeno não é, por si só, a tecnologia da informática, ele se
encontra bem mais na tendência geral de se tomar o mundo virtual
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