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Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
C
adernos
de
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esquisa
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ensamento
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ducacional
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. 9,
n
. 22,
p
.43-64
maio
/
ago
. 2014.
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sociais inusitados. Mesmo assim, a Pedagogia ainda não conseguiu
levar a sério esse potencial renovador, que hoje disputa espaços
com os campos pedagógicos tradicionais. Só muito recentemente,
é possível vislumbrar – sob o rótulo de ‘Pedagogia social’ – algumas
tímidas incursões bem intencionadas da mesma na seara inquietante
desses novos fenômenos.
No rol quase epidêmico de pesquisas, que tentam avaliar e
comparar os sistemas de educação vigentes nos vários países no
globo e, entre eles, vale a pena pôr à luz o cerne dos projetos que
sustentam as próprias pesquisas, salta aos olhos a verdade de que o
interesse em aumentar a transparência e permeabilidade dos sistemas
educativos e chegar a resultados tidos como objetivos nos termos da
cientificidade buscada levou à elaboração de parâmetros gerais de
mensurabilidade, aplicáveis internacionalmente. Embora se saiba
que medir a qualidade mediante indicadores quantitativos é algo
reconhecidamente irrealizável, as pesquisas insistem na avaliação
quantificadora em nome da objetividade científica. O nivelamento
de tradições culturais diferentes, a dificuldade de avaliar a dinâmica
de um sistema, a negligência de condições específicas tais como a
homogeneidade da população ou a distribuição de renda são apenas
alguns dos aspectos desfiguradores, que colocam em xeque a força
explicativa de tais ‘rankings’. Todavia, o procedimento continua sendo
visto como o caminho suntuoso da investigação científica.
É indubitável que as tendências de objetivação descritas,
verificadas no âmbito da Pedagogia, dificultam a tarefa mais nobre da
práxis educativa, a saber, a de pôr à disposição dos educandos as mais
amplas experiências sociais possíveis. É preciso ademais observar,
que tais tendências andam na contramão de uma tradição tão antiga
quanto a própria práxis educativa, no mundo. Uma tradição, segundo
a qual o que se encontra sempre em jogo na práxis educativa é o
ser humano em particular, o indivíduo que carrega consigo uma
biografia e, por conseguinte, interesses e potenciais que não podem
ser descartados. A pergunta que, então, nos ocorre é a de por que a
Pedagogia atual desviou-se deste seu mais central interesse?
2.3 A invasão da racionalidade técnico-instrumental
Há muito, a tecnologia avançada vem colonizando a vida
cotidiana com sua dinâmica. Seja qual for a faixa etária a que