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Na contramão das atuais correntes... -
Hans-Georg Fickinger
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adernos
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ensamento
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ducacional
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. 9,
n
. 22,
p
.43-64
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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atuação, a saber, a experiência social como fator intrínseco ao
processo educativo. Para fundamentar essa afirmação, basta
enumerar os seguintes desenvolvimentos: a adesão da Pedagogia
ao método quantitativo-empírico na busca da objetividade
científica quando se trata da formação de indivíduos com
biografias e potenciais diferenciados; a invasão das ciências
cognitivas para possibilitar a mensurabilidade dos processos
e resultados de aprendizagem; o recalcamento da pedagogia
freiriana pela teoria transcendentalista da ação comunicativa,
defendida por J. Habermas; a monetarização dos processos
educativos; a juridificação dos conflitos ao invés de sua mediação
pelo diálogo. Toda essa lista remete a alguns dos “pecados”,
cometidos pela Pedagogia quando, irrefletidamente ou sem
finura crítica, aceitou orientações vindas de fora dela mesma.
Não que eu queira menosprezar a possível ajuda provinda desses
referenciais. Suspeito, no entanto, que sua inserção, por vezes
meramente ‘modista’ tenha contribuído para que a Pedagogia
se ‘distraísse’ e esquecesse a tarefa nuclear da educação:
a formação, não somente como aprendizagem de matérias
diferentes, senão também como conquista da autonomia e
consciência social por indivíduos-educandos com condições de
vida e potenciais particulares.
Segundo
: a Pedagogia atual contenta-se, em larga escala, com a
observação, o registro e a avaliação da práxis educativa, centrando
assim seu interesse na empiria e no ideal da objetividade científica.
Ela remete, com isso, a um conceito ingênuo de ‘práxis’, que
nega seu vínculo com a teoria. Se é verdade que – adaptando
um veredito de Immanuel Kant – “sem a teoria a práxis é cega, e
sem a práxis a teoria é vazia”, então, para não desembocar em
mera especulação, a teoria precisa alimentar-se da experiência
empírica; e a práxis, por sua vez, precisa recorrer à ajuda do
conhecimento e de diretrizes teóricas. Logo, somente na medida
em que estiver consciente de ser orientada por convicções teóricas
pelo menos implícitas, a práxis não desembocará numa atuação
aleatória, ao passo que a teoria só terá substrato real, caso
expresse necessidades concretas. Ambos os lados impulsionam-
se e corrigem-se mutuamente. Tematizar sua concatenação
indispensável e insistir no seu papel produtivo é o desafio de uma
Pedagogia que não quiser, como a atual, desdobrar-se tateando
no escuro ou sem substrato concreto a que remeter.