Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 215

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Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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.206-228
maio
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. 2014.
Disponível em <
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guiar-se pelo bom senso e pela razão. Condena a relação servil e de
negócios que os pais mantêm com os seus filhos; denuncia diversas
posturas que prejudicam o desenvolvimento da infância quando
acompanhados muito de perto pelos pais dos educandos; propõe
afeto na educação do sujeito, e não violência. Em forma de ensaios,
seus conselhos indicam a educação de um novo sujeito em que à
subjetividade da criança deve-se aliar a razão da filosofia e o afeto
sincero – esse elemento coloca Michel de Montaigne além de seu
tempo, por entender que é necessária uma educação da infância que
preze pela especificidade desse período – que pudesse desenvolver-se
de forma racional e com sentimentos sinceros de afeto. Condena a
paparicação como falsa prática de relacionamentos afetivos.
Ghiraldelli entende que, ao condenar a paparicação, Montaigne
adverte:
É como se estivesse dizendo aos pais: vocês não são
homens modernos, pois estão presos ao irracional e
à ludicidade (e sabe-se o quanto está associada aos
nobres) e não a um mundo comandado pela razão,
por isso tratam as crianças no sentido de obtenção de
prazer lúdico em benefício próprio, e, assim não cuidam
dos pequenos através de uma disciplina que vise ao seu
bem (GHIRALDELLI, 1997, p. 116-117).
Em nosso entender, Michel de Montaigne é o pensador que,
mesmo mantendo desconfianças, está contribuindo para o processo
de subjetivação do mundo, que deve começar na modernidade pela
subjetivação da infância. Caso contrário, como chegar à sociedade
justa livre, igualitária e emancipada sem a educação e a formação
de homens moralmente melhores? Isso pode ser percebido em
todo o seu texto, principalmente no papel de destaque que atribui
à filosofia na educação da infância como instrumento racional
que possa levar à dimensão crítica da realidade. O pensamento de
Michel de Montaigne revela marcas profundas principalmente de
quem está vivendo um período de transição paradigmática, marcado
por profundas incertezas. Quatro anos após a sua morte, nasce
René Descartes, que radicaliza uma concepção de subjetividade,
dentro do horizonte da nova metafísica. Que ideias inovadoras
nos trouxe?
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