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Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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.206-228
maio
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. 2014.
Disponível em <
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esse primeiro estágio em que o mais latente é a nossa animalidade.
A principal diferença é que Rousseau utiliza o sentimento e o afeto
como recurso:
De toda forma, o interessante aqui é a constituição da criança
como alvo de um investimento afetivo, os quais, ao mesmo tempo
em que percebem como construído historicamente, é apresentado
como natural – e tem de sê-lo. (GHIRALDELLI, 1997, p.103).
O que se pode visualizar a partir desses autores, é que a
modernidade, ao almejar o esclarecimento e tendo como referência
a perspectiva da filosofia da reflexão, tomou a infância como
mecanismo necessário a fim de que, superando-a, fosse possível
atingir os seus ideais iluministas. Ora, tais ideais apontam sempre
para uma realização plena do sujeito, cujos sentidos são a liberdade,
a autonomia e a emancipação.
Do ponto de vista de uma perspectiva teórica, torna-se difícil
demonstrarmos essa aproximação entre a infância e subjetividade.
Por um lado, temos um conceito filosófico; por outro, um conceito
pedagógico e histórico que, na maioria das vezes, não é bem
precisado. O que não se poder negar é que a infância, mesmo
tomando contornos diferenciados, passa a abrir espaço para a
emergência de novas categorias metafísicas demarcando, desse
modo, um novo cenário em que o homem “seguro de si” pode definir
os novos eventos e critérios para se pensar as múltiplas realidades
sociais.
A grande aposta na infância é uma condição necessária para
efetivação das condições da educação do sujeito, que é sustentada
pelo princípio da subjetividade. Caso a subjetividade fracassasse, a
própria infância perderia seu crédito. Isso significa que o ponto de
chegada deve ser na modernidade, o sujeito livre e esclarecido com
autonomia para constituir um novo ideal de sociedade. Logo, se a
educação não cumprir o papel pedagógico de educar o cidadão para
as novas tarefas sociais, ele não vai atingir a soberania almejada.
Daí que a infância é o ponto de partida desse processo.
O que não se pode ignorar nessa discussão, conforme já exposto,
é que na modernidade, o estágio infantil, em nenhum dos autores
revisitados, é o ponto de chegada; ao contrário, faz parte de uma
narrativa iluminista em que se valorizam as crianças, sobretudo, pelo
que elas vão tornar-se. Até mesmo Rousseau (1995), que aponta para
a infância como um estágio de bondade natural, mais tarde irá afirmar