Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 219

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Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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.206-228
maio
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. 2014.
Disponível em <
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adulta seria perturbar a maturação natural exigida pela
ordem do tempo (BOTO, 1996, p. 28).
A nova subjetividade necessita estar sintonizada não mais
apenas com a razão. E como ela não se encontra mais em oposição
à razão, mas vinculada ao interior, a infância passa a ser um estado
filosófico por excelência. Desse modo, ao operar com uma ideia
de natureza vinculada diretamente à busca de uma essência, a
concepção de infância em Rousseau fundamenta-se nas bases do
pensamento metafísico da identidade, da correspondência e da
busca de verdades. Afinal, é isso tudo que reforça a subjetividade.
No entanto, no momento em que a subjetividade não atingir suas
finalidades, fragilizam-se também a concepção de infância, dando-
nos a entender que a infância é histórica e se expressa de modo
diferente em cada período histórico.
A subjetividade proposta por Rousseau (1995) sugere uma
acepção de infância bem diferente da cartesiana. No entanto, as
teleologias são semelhantes no que concerne à busca da verdade e da
melhoria das condições de vida, que só são possíveis se transcender
a esse estágio. Mas é dentro deste horizonte que se localiza a
maioria dos pensadores modernos: o entendimento de que é pela
educação que se pode melhorar os homens. De fato, isso consiste
numa grande atribuição que move todo o Iluminismo na busca do
esclarecimento, da afirmação do sujeito, que almeja emancipar-se
e auto certificar-se a qualquer custo pela formação. Immanuel Kant
aponta a subjetividade de modo decisivo, o que se poderá contemplar
a seguir.
I
mmanuel
K
ant
:
infância
,
maioridade
e
adultez
Uma primeira consideração que fazemos é a de que o filósofo
Immanuel Kant (1724-1804), utilizando pouquíssimas vezes o termo
infância, constrói toda a possibilidade de uma leitura da educação
infantil. Na verdade, como já se frisou, na proposta de Kant está
intrínseca uma preocupação maior assumida pela subjetividade
moderna: tornar a sociedade moralmente melhor e mais humanizada.
De que forma? Através de uma perspectiva pedagógica e filosófica
que priorizasse a formação do sujeito racional. Como isso é
impossível sem considerar os estágios pelos quais a sociedade e as
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