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Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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.206-228
maio
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. 2014.
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tomada pela maioria dos grandes pensadores modernos, que
ofereceram a ela diferentes roupagens. Nessas roupagens, as
crianças necessitam ser subjetivadas pela razão adulta, pois ela não
serve como referência para que sejam atingidos os anseios de um
futuro melhor.
Assim, o esforço de cada autor ao definir quem é o
infans
e como deve ser tratado, demonstra a tentativa de apreender as
manifestações da criança. Daí entende-se, em cada pensador,
a indicação de teleologias, metodologias, modos de proceder e
indicação da razão como superação da primeira condição que
consiste em ser criança. Esse é, sem dúvida, o papel da educação
ao eleger o infantil como um novo objeto a ser pensado e “moldado”
visando sempre adultez, autonomia e segurança.
Ghiraldelli (1997) tematiza essa questão sobre a noção de
infância moderna e sugere que, dos anos quinhentos ao final dos
setecentos, surge uma nova concepção de infância, uma concepção
que acaba por envolver os adultos em um novo sentimento de
infância “do qual emerge a noção de infância que, paulatinamente,
se estabelece nos meios letrados, fator importante na reorganização
da educação, da escola e mais tarde da vida familiar” ( p. 112).
Este autor considera que Ariès (1981, p.52) já havia identificado
isso anteriormente, quando afirma que, na sociedade medieval, o
sentimento de infância não existia e somente “por volta do século
XIII, surgem alguns tipos de crianças um pouco mais próximas do
sentimento moderno”. Explicitando sua tese, Ariès (1981) continua
demonstrando, a partir de vários exemplos, que mesmo tendo
aparecido alguns traços identificadores de criança no período
medievo, será somente na modernidade que o sentimento em relação
à infância será mais destacado.
Em conformidade com este raciocínio, Postman (1999) sugere
alguns motivos que demonstram a inexistência da categoria infantil
na Idade Média e reforça, com isso, que a discussão é moderna como
já mencionamos: “A falta de alfabetização, de educação e vergonha
são as razões pelas quais o conceito de infância não existiu no mundo
medieval” (POSTMAN, 1999, p. 31). Havia crianças, mas não havia
interesse por elas, portanto, não havia nenhuma preocupação em
descrever a infância. Cabe lembrar, também, que Kramer (2005)
concorda com Ariès (1981) com um sentimento ambíguo em relação
à infância na própria modernidade: