Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 208

Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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. 2014.
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com as crianças era motivo de ignorância dos nobres com seus
filhos. E foi pensando em proteger os filhos destes perigos que vai
surgir o conceito moderno de educação para a infância. A criança
tinha que ser protegida especialmente dos segredos vinculados ao
sexo: Segundo Postman (1999, p. 24), nesse contexto “As crianças
necessitam estar salvas e protegidas dos segredos dos adultos”.
Como estamos acostumados a estudar a história pelos grandes
pensadores, é comum que passe despercebido o fato de que,
conforme Postman (1999, p. 33), “De todas as características que
diferenciam a Idade Média da Moderna, nenhuma é tão contundente
quanto à falta de interesse pelas crianças”. Como decorrência desse
processo, a educação trata o infantil como um objeto que deve ser
pensado, definindo a infância do seguinte modo: como um tempo
de espera a ser usufruído por seres pequenos; produz-se um excesso
de conteúdos para esse infantil e institucionaliza-se toda e qualquer
infância. Conforme o pensamento de Lajonquière (1999), é possível
concordar que a abordagem da infância na modernidade relaciona
os sonhos do homem a uma espécie de “paraíso perdido”, que,
tendo alcançado a fase adulta em uma tentativa de reverter uma
insatisfação, um mal-estar em relação ao passado, buscam um
futuro diferente.
Almejando contribuir com o debate inicial, observamos a
identificação de duas grandes linhas filosóficas que demonstram
os esforços para definir a infância. Embora estas linhas possuam
seu ponto de convergência na modernidade, apresentam vertentes
filosóficas bem mais antigas. A primeira linha nasce com Platão,
aproximadamente no ano de 399 a.C., atravessa a pedagogia cristã
Agostiniana e chega até nós por meio do cartesianismo que vai nos
dizer, entre outras coisas, que a infância é um mal necessário, uma
condição próxima do estado animalesco e primitivo, e que, como as
crianças são seres privados de razão, elas devem ser corrigidas nas
suas tendências selvagens, irrefletidas e egoístas, que ameaçam a
construção consensual da cidade humana graças à edificação racional,
que pressupõe o sacrifício das paixões imediatas e destrutivas. Daí, a
importância da perspectiva freudiana da necessidade da repressão
para chegar à sublimação criadora de valores culturais. Este dado já
está na gênese da perspectiva platônica. Uma segunda linha, também
proveniente da platônica, atravessa o Renascimento, encontra a
filosofia de Montaigne e chega a nossas escolas ditas alternativas por
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