Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 207

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Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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colocar-se nessa direção. Isso também amplia significativamente
o universo da educação, que se apresenta com maior riqueza e
possibilidades da emergência do novo e do plural, negados pela
lógica do pensamento único.
É claro que não ignoramos aqui que essa discussão não é
de hoje, pois sempre existiram crianças, mas é na modernidade
que elas serão coroadas com a categoria conceitual de infância e
isso altera significativamente o papel das crianças na sociedade.
Observa-se, que, embora não houvesse, na Grécia, uma concepção
precisa de criança, os autores que discutem a questão reportam-se
para a Grécia, por ser lá o lugar onde ocorreram, mesmo que de
forma tímida, os primeiros registros sobre a infância. Existia certo
antagonismo, que ora mencionava as crianças, ora as ignorava. Isso
aparece de forma mais nítida, nos hábitos e costumes gregos. Um
deles, por exemplo, era o fato de aparecerem escassos registros
sobre crianças.
Outro dado que demonstra o antagonismo afirmado acima
consiste na grande paixão que os gregos tinham pela educação. Os
livros que discorrem sobre esse período mostram que eles educavam
suas crianças. Sabemos que se tratava de uma educação, em geral,
mais para ouvir do que para perguntar. Dessa forma, é possível
concordar com Postman (1999) que o hábito de matricular os filhos
aos sete anos na escola remete-se aos espartanos. Na verdade, foram
os gregos que inventaram a escola. A escola surge para preencher
o tempo ocioso dos filhos de famílias mais abastadas e a educação
passa a ser a grande arte no contexto de melhorar as crianças. A ideia
de melhorar é também um tanto ambígua, pois poderia ser inclusive
pela via do castigo. Mesmo possuindo contradições na concepção de
infância, é bom frisar que não foram os gregos que a inventaram,
mas foram eles que primeiro demonstraram certa preocupação em
educar a criança.
Em período posterior, os romanos assimilaram a ideia de
escola dos gregos. Em alguns aspectos avançaram e, em outros,
retrocederam. No entanto, é a partir do conceito de vergonha que se
desenvolve a concepção de infância no período medieval. Os hábitos
e os procedimentos comuns, entre a população deste período, estão
marcados pela ausência da noção de vergonha. Marco Quintiliano
criticava o comportamento das pessoas adultas diante da presença
de crianças nobres. Segundo ele, a falta de respeito e vergonha
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