Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
212
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de
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. 9,
n
. 22,
p
.206-228
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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O sentimento moderno de infância corresponde a duas
atitudes contraditórias dos adultos: uma considera a
criança ingênua, inocente e pura e é traduzida por
aquilo que Ariès chamou de “paparicação”; a outra
surge simultaneamente à primeira, mas se contrapõe
a ela, tomando a criança como um ser imperfeito
e incompleto, que necessita da “moralização” e da
educação feitas pelo adulto (KRAMER, 2005, p. 19).
É possível fazer uma primeira associação entre a nova
compreensão de infância e as mudanças da modernidade. Se
relacionarmos essas transformações com a instauração do paradigma
da metafísica da subjetividade, Ghiraldelli (1997) sugere que se
trata da fundação de um conceito de infância no início da era
moderna e, de lá para cá, estamos assistindo às mudanças nesse
conceito a partir do processo de subjetivação do mundo. Ou dito
de outro modo, como o sujeito moderno vai projetando os modelos
que visam a melhorar o mundo, tornando os homens moralmente
melhores, os desdobramentos que ocorrem nessa subjetividade
estariam pressupondo uma noção de infância, necessária para dar
conta desse projeto?
Fazendo parte do anseio moderno de auto certificação e
de definição do que é melhor e necessário para as crianças, as
diferentes acepções de infância permitem traduzir esse esforço de
cada pensador na categorização do universo infantil. Partindo do
pressuposto de que a infância é histórica, podemos questionar se
o que ocorreu na modernidade foram tentativas de definir o que é
melhor para as crianças, criando desse modo acepções diferenciadas
de infância?
A ideia de infância não existiu sempre da mesma
maneira. Ao contrário, ela aparece com a sociedade
capitalista, urbano-industrial, na medida em que
mudam a inserção e o papel social da criança na
comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança
exercia um papel produtivo direto (“de adulto”) assim
que ultrapassava o período de alta mortalidade, na
sociedade burguesa ela passa a ser alguém que
precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para
uma atuação futura. Este conceito de infância é,