Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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.206-228
maio
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ago
. 2014.
Disponível em <
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educação da infância nos moldes dessa racionalidade. No primeiro,
isso evidencia-se na grande ênfase que dá à filosofia como uma
disciplina que permite ao aluno o exercício oposto do método da
cultura livresca. No segundo, há uma defesa cristalina do papel que
a razão ocupa na constituição da subjetividade que, aos poucos, vai
conhecendo-se como consciência plena. No entanto, afirma que os
caminhos para chegar até a percepção dessa plenitude só podem
ser pelo viés racional. Só através dele que se podem atingir verdades
claras e distintas. O autor leva isso ao extremo, a tal ponto que
postula a possibilidade de que se nascêssemos adultos, teríamos o
acesso a esse modo de compreensão bem antes. Observa-se que
sobra pouco espaço para a manifestação da criança. Também não se
pode afirmar, mais precisamente, se esta era uma das preocupações
do pensador. O que não se pode negar é que foi o seu pensamento que
estabeleceu o corte epistemológico com o saber clássico, instaurando,
desse modo, as bases do saber moderno. Diferentemente, Montaigne
(1980) mantém uma relação mais afetiva com a infância.
Por outro lado, Rousseau (1995) e Kant (2003) representam
(ainda no mesmo horizonte) o amadurecimento dos princípios que dão
sustentabilidade à filosofia moderna. Se o pensamento de Montaigne
(1980) e de Descartes (1987) trilhavam as suspeitas a partir de uma
dúvida levada aos extremos, o que se torna indubitável é que no bojo
do século XVIII Rousseau (1995) e Kant (2003) credibilizam em suas
obras uma forte aposta no sujeito. Ambos partem da premissa de
que há uma natureza primeira que necessita ser transformada. Essa
transformação deve começar pela infância em ambos. Fica evidente
com isso que a infância necessita ser educada.
O fim último da educação da infância é a superação desta
condição pela adultez e pela maioridade. O esforço de buscarem
a formação do novo sujeito contribui para maior especificidade
da infância. Como vimos, em Rousseau (1995), fica mais evidente
a sua atenção à abordagem da infância que é visivelmente mais
aprofundada, afetiva e amorosa. Em seus postulados, como já se
frisou, há um grande reforço dos princípios que dão sustentação à
educação moderna de infância. Nos pressupostos de sua obra aqui
estudada, como notamos, há a defesa contundente de moralizar a
infância como necessidade para a inserção social do novo sujeito
preparado para convivência na
república democrática.
No caso de
Kant (2003), fica claro que é pela educação da infância que se vence