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Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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.206-228
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. 2014.
Disponível em <
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Na pesquisa que realizamos, não se encontrou no estudo
da obra qualquer elogio a uma característica infantil, como em
Rousseau (1995), por exemplo, mas vislumbrou-se uma necessidade
urgente de educar e vencer a infância para alcançar uma série de
teleologias. Pretensiosa, a acepção pedagógica kantiana vê na
infância um estágio a ser superado e centra-se na afirmação de
um novo sujeito: autodeterminado, seguro de si mesmo, racional e
moralmente correto.
Como não poderia ser diferente, a educação assume aqui uma
tarefa messiânica: fazer com que os homens se tornem humanos. Isso
faz parte tanto do projeto de Rousseau (1995), quando discorre que
o verdadeiro estudo é o da condição humana e conclama a todos:
“homens, sede humanos” (ROUSSEAU, 1995, p. 14), como também
do projeto de Kant (2003), pois entendem que é a educação que
nos torna humanos.
C
onsiderações
F
inais
Ao iniciarmos este texto, consideramos que a relação entre os
quatro filósofos modernos que teorizaram a respeito da temática
da infância e da subjetividade demarca a forma moderna de
compreender a infância. Tecemos algumas considerações que
contribuem para pensarmos uma filosofia da educação da infância
moderna. Tanto Montaigne (1980) como Descartes (1987) delineiam
os novos traços da incipiente subjetividade moderna. Fazem isto
quando (no caso do primeiro), utilizam o referencial dos céticos para
questionar a cultura até então vigente. Este aspecto é identificado
também (pelo segundo) já que pelo ceticismo, ambos procuram uma
rota segura para a fascinante viagem do conhecimento no oceano
da liberdade consciencial em que flutua o universo matematizado de
Galileu Galilei. Na definição do papel que o sujeito passa a assumir,
a partir de então, a educação da infância traz em seu bojo algumas
reivindicações. No caso de Montaigne (1980), isso fica bem evidente
na crítica ao saber clássico aristotélico (ponto de referência na Idade
Média) e a indicação de uma educação não voltada exclusivamente
para práticas de repetição sem sentido.
Outro aspecto importante enfatizado tanto em Montaigne
(1980) quanto em Descartes (1987) consiste num dos fundamentos
da modernidade que é a aposta na razão. Ambos postulam uma