Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 225

225
Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.206-228
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
atitudes dos mais diferentes setores do mundo moderno. Mas o que
isso tem a ver com os cenários mais atuais? Muito.
No que concerne à filosofia da educação, é possível identificar
claramente em seus postulados e projetos, uma defesa contundente
que reivindica certo estatuto nos modelos de educação desenvolvidos
hodiernamente. A ideia de que pela educação da infância melhora-
se a vida das pessoas está hoje muito presente nos modos de vida
em geral e também nos projetos e propagandas de cada escola que
deseja que nela seja matriculado seu filho. É uma educação que
acredita, de forma bastante pretensiosa, estar preparando esses
novos sujeitos para assumirem espaços privilegiados. Ignorando as
verdadeiras estruturas do “mundo da vida”, a modernidade postulou
conceitos metafísicos de infância e de sujeito que não são passíveis
de serem atingidos. As estruturas desse modelo, que credibilizam
todo esse projeto, centram-se na crença de um sujeito que é criador
de sentido da realidade. No entanto, como esse projeto é direcionado
pelo viés burguês, é bom lembrar que a bela noção de infância, por
exemplo, merecedora de todos os cuidados não se vinculou a todas
as classes sociais da época.
Mesmo tendo, por um lado, demonstrado aceitação e afeto
pela infância e, por outro, utilizando-a como etapa necessária
para a afirmação da subjetividade adulta é inegável a contribuição
desses quatro grandes filósofos que nos possibilitam uma melhor
compreensão sobre a identidade ou as identidades das infâncias de
corte moderno.
Para além desse horizonte, o estudo que realizamos aponta
para uma infância que pode ser pensada a partir de uma filosofia da
educação que considere a reflexão sobre os seguintes princípios:
1.
A infância deve ser estudada como uma categoria histórica e se
constitui num tempo e espaço específico.
2.
A infância deve estar orientada por uma outra noção de
racionalidade.
O pensamento pós-metafísico ao apontar, com
Habermas (2002), para a destranscendentalização da razão,
sugere a possibilidade de um olhar para a infância que pode
constituir-se tendo como referência o horizonte linguístico;
3.
É necessária a liberação do potencial comunicativo reprimido da
infância.
A noção de infância como declinação de infante (como
aquele que não fala) é, fundamentalmente, metafísica;
1...,215,216,217,218,219,220,221,222,223,224 226,227,228,229,230,231,232,233,234,235,...258
Powered by FlippingBook