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José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
C
adernos
de
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esquisa
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ensamento
E
ducacional
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uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.231-250
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
A E
ntrevista
Antonio Dias (AD) —
Professor, o senhor costuma dizer que é
importante compreender como o filósofo pensa. Em sua opinião,
como é que Marx pensa?
José Barata-Moura (JB-M) —
Essa distinção que eu faço às vezes tem,
digamos, um cunho um pouco pedagógico. Na Filosofia, também
em outras áreas, a atenção fica, de algum modo, centrada em
exclusivo sobre aquilo que são as concepções, as doutrinas, as
teses etc., de um filósofo ou pensador. E não se presta, a meu
ver, o cuidado necessário a procurar compreender como é que
os autores pensam. E isso é, para mim, provavelmente como
experiência pessoal, talvez, das coisas mais gratificantes do
diálogo filosófico, do diálogo na leitura com autores com os quais
nós podemos até nem ter afinidades ou simpatias, do ponto de
vista teórico ou do ponto de vista da aceitação, com aquilo que
corresponde às posições deles. Sobretudo, no caso dos grandes,
nós temos sempre muito a apreender com aquilo que é a maneira
como eles pensam. Claro que nós temos que perceber o que é que
corresponde à mensagem, o que é que corresponde à teoria, aquilo
que, de alguma forma, deliberadamente, nos está a ser comunicado
nestes textos. Mas é também importante nós treinarmos um pouco
a nossa sensibilidade e a nossa capacidade de discernimento para
essa outra coisa que é a maneira como se pensa.
No caso do Marx, digamos, para responder muito rapidamente
— o Marx, que não escreveu muitas páginas e nenhum livro sobre