Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 238

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
238
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.231-250
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
AD —
A questão clássica da Ontologia é: “o que é o
Ser
? O que é
aquilo que
é
?”. E, certamente, a trajetória intelectual de Marx não
ficou imune a essa questão tão fundamental. Vê-se claramente
que há, em Marx, um interesse em dar uma fundamentação
ontológica à realidade objetiva. Na sua interpretação, como Marx
responde a essa questão?
JB-M —
Há aqui outras duas coisas que é preciso ter cuidado.
Uma delas é: “como é que eu penso a Ontologia?”. E eu penso
a Ontologia como um corpo ou conjunto muito diversificado,
contraditório, de doutrinas ou concepções, de atitudes,
comandadas, de alguma maneira, por uma resposta a essa
pergunta: — que, aliás, é a pergunta dos gregos [antigos],
encontrada em Platão, em Aristóteles e também em Hegel e
muitos outros — “que é aquilo que
é
?”. E atenção: para mim,
a Ontologia é, digamos o campo onde se inscrevem todos esses
respondimentos. Porque essas respostas são diferentes. As
pessoas vão dizer: “aquilo que
é
é Deus”, “aquilo que
é
é a
Natureza”, “
são
os corpos”, “aquilo que
é
é o movimento”, “a
vontade”, “aquilo que
é
é a linguagem” etc. Portanto, quando
eu falo da Ontologia falo, no fundo, da problematização para o
respondimento a uma pergunta desse tipo.
Não desisti de procurar, embora até agora não tenha encontrado,
a não ser numa
Carta
já tardia do Engels — aliás, há um longo
texto meu sobre o [Max] Stirner, que foi publicado na Alemanha,
mas eu penso também que, depois, foi publicado aqui, na
Philosóphica
3
, em que há, lá, uma “nota” em que eu falo sobre
isto. Na
Carta
, Engels se recorda, a pedido de alguém que lhe
havia solicitado um depoimento, dos primeiros contatos que teve
com o Stirner. E, curiosamente, Engels conta que eles tinham, ali
por volta de 1841/42, “acaloradas discussões acerca daquilo que
é
“: se era “o eu”, se era “o impessoal”, “o que é que era?”. É a
única ponta da meada, mas é uma ponta que nos permite dizer
que, até nesse tipo de formulação, pelo menos para aqueles jovens
interessados na Filosofia e emmuitas outras coisas, essa questão,
pelo menos, teria sido objeto de debate ao ponto de que, mesmo
dezenas de anos depois, o Engels se recordar desse episódio.
E, portanto, repare, — porque eu penso que isto acontece ao
longo da História da Filosofia — há pensadores e há filósofos
que formulam o problema nos termos aproximados em que
lhes convém “o que é aquilo que
é
“; e elaboram também sua
3 Revista do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.
1...,228,229,230,231,232,233,234,235,236,237 239,240,241,242,243,244,245,246,247,248,...258
Powered by FlippingBook