Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 246

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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maio
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. 2014.
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Depois, duas coisas importantes: [1] é que a dialética também
não é uma espécie de “chave-mestra” — a dialética tal como
Marx a entende, não como Hegel a entende — e que isso é
tudo “reconciliável” e que, no fim, vai tudo “harmonizar-se”.
Simplificando, isto era muito a concepção da
Versöhung
, a
concepção da reconciliação, no caso de Hegel, quando chegamos
à
Wesen
, quando chegamos à essência. Enfim, tudo entra em seu
lugar e, por conseguinte, a contradição, de alguma maneira, está
harmonizada nas coisas.
Repare que, aí, é importante a base materialista do Marx também.
E já desde os
Manuscritos de 1843,
Marx diz: “calma ai porque nem
todas as contradições são desse tipo, nem todas as contradições
se resolvem na essência. Pode haver contradições que obrigam
[causam], efetivamente, rupturas, cortes etc.” E [2], portanto,
também, é preciso ter algum cuidado no uso da dialética e no
uso da contradição no sentido de se perceber quando é que uma
disjunção pode corresponder a alguma forma “pobre” e a alguma
forma errônea de olhar para a atualidade, e perceber também,
digamos, quando é que são as situações em que, efetivamente,
não há solução que não passe pela “ruptura”.
Tecnicamente, isto vai ser desenvolvido no caso do Marx e no
caso do Engels, e depois um bocadinho mais com o Lênin,
“conquistando” vários tipos de contradições e, designadamente, o
antagonismo
como umdos formatos ou umdos tipos da contradição
em que não há, digamos assim, uma combinação possível.
AD —
Quero fazer uma mudança de temática, mas sem sair de
Marx e do marxismo, sem fugir das suas interpretações. Refiro-
me agora ao tema da Educação. Considerando aquele relato
autobiográfico de Marx de 1857, onde Marx diz mais ou menos
assim: “tinha dúvidas sobre como me posicionar em face das
chamadas questões que envolviam interesses materiais. Para
dirimir tal dúvida, a primeira tarefa que cumpri foi voltar a
estudar criticamente a Filosofia do Direito de Hegel” (
Princípios
da Filosofia do Direito
). Pergunto-lhe: que questões e interesses
materiais estão envolvidos na Educação?
JB-M —
Olha, a Educação faz parte da materialidade da forma
humana do Ser. Porque nós somos humanos, e nós humanizamo-
nos, para além de nos termos hominizado, dentro de uma teia
social de relações emdesenvolvimento [onde] aparecemproblemas,
questões, necessidades, respostas etc. E, de alguma maneira, a
Educação é exatamente esse processo em que, numa descoberta
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