247
José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.231-250
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
conjunta, que fazemos com outros, e é por isso que são importantes
os Educadores, por isso é que o diálogo é também uma figura
importante. Portanto, no quadro dessa descoberta conjunta do
“mundo da vida” nós vamos, de alguma maneira, dando forma,
como eu gosto de dizer, à condução do nosso viver.
E, portanto, neste sentido, a Educação, que, se calhar, não
corresponde apenas a uma antecâmara da vida, “uma formação
ou preparação para a vida, para o mundo do trabalho”. E há duas
coisas muitos graves que, a meu ver, que se perdem aí. [Primeira:]
é que o espaço da escola é também um tempo do viver; [segunda:]
é que os tempos da vida são o espaço da Educação. Portanto,
no fundo, a Educação é uma coisa que nos cruza — como diria
o Freud, se calhar, já desde a barriga da mãe.
E repare que, vista dessa maneira, a Educação é uma maneira
mais abrangente e mais funda daquilo a que nós poderíamos
chamar, digamos de sistemas institucionalizados, perspectivas
das várias culturas e das civilizações como correspondente a um
processo educativo. Neste sentido, nós não seríamos humanos
fora de um processo educativo que é muito mais rico do que
costumamos perceber. O que não significa que as instituições
não sejam percebidas [como importantes]; o que não significa
que não haja avanços importantes nas etapas do desenvolvimento
das próprias sociedades onde o cuidar do sistema educativo não
desempenhe um papel muito importante. E, se calhar, a gente tem
de se bater com isso, sobretudo nesses momentos atuais sujeitos
a muitas ofensivas contra os objetivos da Educação.
AD —
O senhor esteve como Reitor da UL durante 8 anos e,
certamente, tal experiência como gestor proporcionou-lhe um
contato maior com a problemática da Educação formal e da
formação humana em geral. Gostaria que o senhor falasse do seu
principal aprendizado relativamente a estes problemas?
JB-M—
São várias questões. Mas, assim, uma delas foi: compreender,
e não é só compreender, como, no quadro das sociedades
contemporâneas, o cultivo científico do saber e a formação
qualificada dos humanos é de uma peculiaridade que, neste caso,
corresponde a uma das linhas estruturantes de uma universidade, e
também se constitui como um pilar da soberania. É evidente que há
outros problemas: da defesa, das ameaças, da segurança, o exército
etc. E há outros [indivíduos] que podem perceber [e dizer]: “bom,
mas se não houver nada para comer, para se alimentar...” etc.
Portanto, do meu ponto de vista, a soberania tem muitos pilares.