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José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
C
adernos
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. 9,
n
. 22,
p
.231-250
maio
/
ago
. 2014.
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formulou de modo correto, embora numa roupagem idealista,
aquilo que são o núcleo fundamental das leis dialéticas da
compreensão da dialética”. É evidente que, nem o Hegel tinha
essa pretensão, e nós sabemos que — repare — as formas
dialéticas do pensamento estão inscritas também naquilo que é
uma dialeticidade do próprio real. E, apesar de todo o idealismo
do Hegel, isso é o ponto fundamental que o Hegel quer pôr em
evidência: que a dialética não é apenas, por assim dizer, um
paradigma da consciência, ou um paradigma do pensar subjetivo.
Mas que a dialética está metida nessa própria realidade. E tem
outra questão associada a esse fato, e que é muito importante,
que é a “compreensão da historicidade do real”, [a saber:] por
que é que a dialética está metida dentro da realidade? Porque
a historicidade está, digamos, em unidade, com o próprio Ser.
O que, reparem, isso possibilita outros desenvolvimentos, por
exemplo, quanto à questão do espaço e do tempo.
AD —
Poderíamos, então, concluir que, sem o recurso à dialética
de Hegel, o Marx não teria conseguido criar o seu “materialismo
dialético”?
JB-M —
Ouça. Isto já o Aristóteles, que muitas vezes é visto apenas
pelas coisas aparentemente não muito amigas da dialética,
mas o Aristóteles é ele próprio um pensador dialético também.
E também, curiosamente, e isto não é muitas vezes assinalado,
o Aristóteles é, talvez, dos “grandes-primeiros” a perceber a
importância da História.
Toda a criação cultural, filosófica, artística, toda criação é, por
muito que pese aos adeptos do criacionismo teológico, ela nunca
“
é
“ a partir do “nada”.
Nós somos seres culturais; a nossa humanidade é resultado e é
deveniente de um processo cultural. E é nesse marco que “o novo”
se dá; é nesse marco que “as descobertas” se fazem. E atenção:
nessas descobertas, é muito interessante de ver quando é que
elas vão ser diferentes. Porque repare, se o real fosse uma coisa
estática, em princípio, haveria umas pessoas muito inteligentes
que, um belo dia, que tanto podia ser hoje quanto poderia ter sido
há cinco mil anos atrás, descobrem o que estava lá. Mas reparem
que a sensibilidade à historicidade do real, é muito difícil de lá se
chegar e, provavelmente, [seria ainda mais difícil lá chegar] sem
a ajuda [e compreensão] do desenvolvimento do capitalismo dos
tempos modernos, porque isto trouxe outra percepção do tempo,
outra percepção da ciência etc.