Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 244

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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. 2014.
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no caso de Marx é muito mais radical —, isto significa que a
invenção, a criatividade não são negadas e nem apagadas.
Essa invenção e essa criatividade, como fundo humano, como
pretensão intelectual que permite compreender..., é criatividade,
mas essa criatividade não paira no ar. E é essa dialética, é nessa
dialética que é preciso, e que é difícil — mas o interessante está
aí — é perceber como é que estas diferentes instâncias jogam.
Quer dizer: aqui o produto é produto, mas o produto não significa
que seja uma coisa mecânica; nem o reflexo é mecânico.
AD —
O produto é dialético.
JB-M —
Sim.
AD—
Professor, eu vou colocar em destaque o tema da “contradição”.
Do ponto de vista dialético marxiano, é da materialidade do real
que nascem as contradições...
JB-M —
[Ess]a questão é praticamente uma constante desde, pelo
menos, Zenão de Eléia. Os chamados argumentos de Zenão contra
o movimento, que não são contra o movimento, mas são contra a
pensabilidade do movimento, têm, a meu ver, um ponto fulcral: é
que nós não conseguimos pensar o movimento sem a contradição.
É intrínseco.
É interessante — e Hegel também chama a atenção sobre isto —
que naqueles textos mais tardios do Platão, designadamente no
Sofista
e no
Parmênides,
em que o próprio Platão põe em causa
aquilo que “era”, por assim dizer, o seu modelo parmenidiano
anterior, como a necessidade de “pensar a unidade do Ser e do
Não-Ser”, porque sem isto não teríamos a relação entre as ideias,
não teríamos o movimento também.
Essa questão da contradição, do meu ponto de vista, não é uma
fórmula milagrosa; [a contradição] é uma palavra, é uma categoria.
(Obviamente que há, aí, um cunho muito forte do Hegel na sua
elaboração). Mas é uma categoria para, de alguma maneira, refletir
ou traduzir algo que está no cerne de todo e qualquer movimento.
E é isso o que o Marx também vai buscar. E não é por acaso que o
Marx vai buscar, [e cita] no
Capital,
exatamente numa referência
direta ao Hegel, uma passagem em que o Hegel fala da dialética
como fonte de todo o movimento e de toda a vitalidade.
E, portanto, do meu ponto de vista, a questão da dialética deve
ser pensada a partir daí, e não a partir daquelas visões um pouco
“fotográficas” e decompostas do movimento onde, aquilo que
de fundamental há no movimento, o que de fundamental há na
historicidade é, digamos, reduzido a “um momento do antes” e
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