Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 245

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José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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. 2014.
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“ummomento do depois”, quando no fundo... E isto como questão
ontológica é fundamental porque, com certeza que nós podemos
fixar “o antes” e “o depois”. Mas, na fluência do Ser, é esse processo
[dialético] que lá está.
AD —
E neste caso, as ideias têm um papel importante na tarefa
de compreender as contradições, até para a dinamicidade
do movimento de transformação da realidade. Como seria
dimensionar esse papel? É um papel apenas de compreender
as contradições, ou chega-se mesmo ao ponto de as ideias
potencializarem as contradições?
JB-M —
As ideias, [tal] como todas as abstrações, podem ser
abstrações determinadas. Isto é: abstrações que refletem,
traduzem etc., aspectos da realidade. E, nessa medida, é
evidente que elas desempenham um papel fundamental na nossa
capacidade de falar das coisas, representando-as, analisando-as,
etc.
Depois, a questão está [em saber] em que medida é que nós nos
encostamos nas ideias para petrificar a realidade, ou em que
medida somos capazes de pensar as ideias na unidade fluente
da sua dialeticidade.
AD —
Professor, de que maneira a vida social, as relações humanas
em geral, são afetadas quando se insiste em dicotomias disjuntivas
do tipo: existência
contra
consciência, objetividade
versus
subjetividade?
JB-M —
A questão que estás a levantar é uma questão decisiva.
Quando se “arrumam” as coisas em antinomias, normalmente
as pessoas ficam mais “descansadas”. Porque é o “ou ou”, ou o
“por um lado isto e por outro lado aquilo”; ou ainda: “este lado
é bom e esse lado é mau”. As coisas ficam “simples”, ficam
“arrumadas”, e as pessoas ficam “descansadas”.
Atenção: se nós voltarmos muitos séculos, muitos milênios
atrás, iremos parar, curiosamente, tanto quanto eu sei, — e isto
acontece na Grécia, numa altura não muito diferente do que
acontece na China também; estamos aí no século VII ou VI antes
da nossa era. Porque esta forma, digamos “canonizada”, que
tipicamente corresponde ao emparelhamento dos contrários, ou
idealidade. Repare: do mesmo passo que fixa é um primeiro de
um instrumento de que o pensar humano se serviu para procurar
pensar contra a materialidade do real. E repare que, no caso do
Lao-Tsé, da China, no caso do Heráclito, da Grécia, ou na Ásia
Menor, estas são grandes formas poderosas.
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