Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 236

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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.231-250
maio
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. 2014.
Disponível em <
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a “dialética materialista”, ou sobre o “materialismo dialético”
—, como é que o Marx pensa? Quando ele aborda um conjunto
muito amplo de questões onde os temas são outros, onde o
conteúdo daquilo que ele tem para transmitir é outro, como é que
ele pensa? Ele pensa de uma maneira dialética com fundamento
ontologicamente materialista.
Por contraste, no caso de Hegel em que, obviamente, a doutrina
hegeliana é assumida, e até teorizadamente, numa moldura e
numa bateria de supostos que são idealistas, se nós analisarmos
a maneira como Hegel pensa, no tratamento de muitas questões,
[constataremos que] há uma preocupação muito grande dele
de procurar pensar a partir do real. Eu creio que, na leitura que
o Marx, o Engels e o Lênin fizeram de Hegel não é por acaso
que eles — designadamente e expressamente Engels e Lênin
— chamam a atenção sobre isto através de uma fórmula que é
um bocadinho esquisita, [a saber:] que se tem que perceber que
[o pensamento de Hegel] é um “materialismo de pernas para o
ar”, ou um “materialismo de cabeça para baixo”. Agora, eu creio
que esse exercício pode ser feito com todos os grandes filósofos,
isto é, com aqueles que pensam e escrevem tendo pensado, e
não apenas [com] aqueles que escrevem porque julgam que têm
pensamentos.
AD—
O senhor falou do “materialismo dialético”. Nos
Manuscritos de
1844
, na
Ideologia alemã
e nas
Teses Ad Feuerbach
, Marx critica
o que ele chama de “materialismo crasso”, ‘tosco”, “mecanicista”,
“do dever ser”, e nomeia seu materialismo de “novo e verdadeiro”.
No que consiste o materialismo fundado por Marx? O que ele
tem de novo?
JB-M — As Teses [Ad Feuerbach]
, que teriam sido redigidas em
44/45, provavelmente em 1845, são um importante texto. Não
é um texto de “viragem”; mas é um texto onde “a viragem” se
reflete e onde há consciência desta “viragem”. No entanto, ainda,
quer nos
Manuscritos de 1844
, quer no texto, digamos, quase
imediatamente a seguir da
Ideologia Alemã
, que é de 45/46,
digamos que em 45/46 as coisas já estão desenvolvidas com outra
consistência concepcional e com até a correção de um ou outro
ponto no que diz respeito aos
Manuscritos de 44
. De qualquer
maneira, porém, do meu ponto de vista não há aí uma ruptura
dramática que algumas pessoas — como Althusser e a escola do
Althusser — em determinados momentos quiseram sublinhar.
De uma forma muito resumida: esse materialismo, na formulação,
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