Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 240

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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. 2014.
Disponível em <
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designadamente no
Anti-Dühring
, ou nos fragmentos que vieram
depois a constituir a
Dialética da Natureza,
e é onde o Engels
insiste na formulação ontológica materialista que é, exatamente,
na “unidade material do Ser”, ou na “unidade material do real”,
etc. Estas formulações também ocorrem.
Agora, do meu ponto de vista: mais importante do que as
formulações é [compreender]: como é que essa Ontologia joga ou
está presente na análise, na crítica e na prática de transformação?
E aí, eu penso que [tanto] em relação a Marx quanto em relação
ao Engels, é muito difícil nós percebermos o que eles pensaram e
o que fizeram, e a maneira como eles pensaram “o pensamento”,
e a maneira como eles pensaram “a prática”, se nós não tivermos
em conta esse horizonte ontológico materialista dialético. Quando
eles pensam a política, por exemplo; quando eles pensam a
Economia, a produção de ideias políticas ou ideias morais...
Eu tenho que dizer “pressente-se”, porque, muitas vezes, não
está explícito. Agora, digamos, sem esse horizonte ontológico
[materialista dialético] é muito difícil de a gente perceber,
rigorosamente, o que é que está a ser dito e o que é que está a
ser pensado pelo Marx.
AD —
Quero focar um pouco mais o tema “dialética” em Marx. E
neste sentido parece mesmo ser impossível fugir da referência
ao pensamento de Hegel...
JB-M —
Ok. É curioso porque o Engels, num texto preparatório
do
Anti-Dühring
, mas que acabou publicado na
Dialética da
Natureza
, e que se chama “o antigo prefácio”, o Engels, a meu
ver, explica isto muito bem porque ele diz o seguinte: — ele está a
falar do Kant — e está a falar daquela obra do Kant dos anos 50,
de 1755 por aí, sobre a “teoria do Céu”, em que o Kant formula,
digamos, uma hipótese “cosmogônica” do universo a partir de
uma “nuvem de gases”. E o Engels diz o seguinte: “atenção que
isto é muito interessante porque, pela primeira vez, está aqui uma
visão estática da natureza que é rompida e a história está metida
lá dentro. Afinal, há uma gênese para o universal, do universo,
do sistema solar etc.” E depois ele diz [conclui] assim: “bom, se
não tivesse havido o Hegel, se calhar [provavelmente], a gente
agora estaria a estudar a dialética a partir do Kant”.
É evidente que, do ponto de vista biográfico, cultural, de formação,
é óbvio que, no caso do Marx e do Engels, o Hegel foi um ponto
central de referência. O Hegel, e, aliás, o Marx repetidamente
vai [afirmar] neste sentido, “foi o Hegel que, de alguma maneira
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