Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 249

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José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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. 2014.
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É óbvio, porque é manifesto, que, mesmo em termos de capitalismo,
estas coisas tiveram fases e, às vezes, orientações um pouco
dominantes e diferentes. Talvez, um dos textos mais duros, mas
ao mesmo tempo mais elogiados, e nesse aspecto muito revelador
sobre essa mesma matéria que me está a dizer, que é a “fábula das
abelhas”, do Mandeville, que foi publicado em várias edições entre
1704 e 1725, em que ele diz: “o que é isto de ensinar os filhos das
classes trabalhadoras? Nós precisamos deles é para trabalhar. E,
portanto, cuidado com isso”.
Não se percebe, sem este tipo de reações, no caso da Inglaterra
também, por exemplo, aquilo que nós poderíamos chamar
de uma certa “magnificação” da Educação como a resposta
resolutiva, tipicamente no quadro do Robert Owen e no quadro
dos movimentos owenistas etc. E nós também não percebemos,
durante todo o século XIX, outra coisa muito importante que foi:
não apenas os intelectuais que iam, enfim, magnanimanente,
junto da classe operária instruir os pobres e ignorantes para os
libertar. Não, não. [Houve, sim,] o interesse, o esforço, da própria
classe operária, mais lúcida ou mais esclarecida, pela Educação
própria e pela Educação dos seus filhos também. E, portanto, todo
esse problema, vendo só o século XIX, tem, lá dentro, muito mais
contradições e muito mais dialética do que parece.
AD —
E esse é um problema porque, às vezes, as contradições não
aparecem mesmo.
JB-M —
Exatamente. Elas estão mascaradas. Mas o problema não
são as contradições; o problema é como é que a gente lida com
elas, porque elas estão lá. O problema é, para já, perceber se são
assim ou se não, e como é que nós lidamos com elas e como é que
nós interferimos na medida em que podemos.
Há ainda muitas outras coisas. Eu não conheço muito bem, ou
melhor, o que conheço não me permite falar, mas repare, por
exemplo, eu penso que isso, de algumamaneira é umpouco, ou era,
a situação no Brasil, ou foi durante muito tempo, e noutros países
da América do Sul que eu também conheço: a inexistência de um
Sistema Nacional de Ensino. E, portanto, a perdurância de certas
formas de organizar: umas privadas, outras confessionais, outras
familiares etc.. E até muitas vezes, não sei se no caso do Brasil,
mas noutros países da América [ocorreu], digamos, uma forma de
organizar como se fosse por cima, pela [via da] universidade.
Perceba que estamos a falar do capitalismo — socialismo é
outra coisa — e é preciso as pessoas não se esquecerem que
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