Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 242

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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.231-250
maio
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. 2014.
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A visão da prática como transformação material, se calhar também
é muito difícil de perceber porque há muitas coisas por trás. Mais:
se calhar, digamos, a experiência renascentista do criador artístico
e a experiência operária do século XIX ajudam muito a perceber
a revalorização da ação e da prática humanas.
Portanto, estas descobertas, provavelmente, não são feitas, também,
indiferentemente em qualquer altura dos tempos. Há coisas que
se descobrem porque, na pauta do dia, o problema eclodiu e os
elementos materiais para as descobertas por se fazerem podem,
eles mesmos, terem sido engendrados ao longo de uma dialética de
umprocessomais oumenos longo. Portanto, paramim esse aspecto
é também muito importante. E também [isso] faz parte de uma de
dialéticamaterialista. Porque senão aparece[ria] um indivíduomuito
inteligente a dizer: “pois tudo estava lá, ninguém viu, e eu fui ver”.
E, às vezes, não nos apercebemos e não valorizamos como, de fato,
e isto é muito importante, que a descoberta do mundo é sempre
uma descoberta num determinado estágio de desenvolvimento da
cultura, do saber etc.
AD —
A palavra “dialética”, etimologicamente, liga-se à palavra
“diálogo”; e um diálogo se faz com/por meio de ideias. Esse fato,
por si só, prova a necessidade das ideias para o Homem, para
as relações humanas. Apesar disto, há quem defenda a tese de
que Marx, na medida em que critica a “dialética de Hegel”, está
descartando a validade das ideias. Qual a importância e o lugar
das ideias para Marx?
JB-M —
É maior do que muita gente julga, grande depois de se
perceber como é que elas [as ideias] funcionam. A luta ideológica,
a batalha das ideias não é determinante, mas é muito importante
na composição das consciências, na organização das forças, na
perspectiva das lutas etc. E, portanto, quem não perceber o papel
das ideias, não percebe a importância que há de operar nesse
registro também.
Dito isto, [há de se fazer] uma crítica fundamental a todas aquelas
orientações diversificadas e até contraditórias, para as quais basta
ter uma ideia, ou ter uma boa ideia, ou até mesmo uma ideia
correta para a realidade seguir essa ideia, ou os seres humanos
seguirem esta ideia. E reparem que, em todas as intervenções
do Marx e do Engels também, o que nós encontramos sempre
é essa “compreensão do papel das ideias”, “da função que elas
desempenham”, daquilo que é seu “processo de gênese”, daquilo
que são “os interesses que elas refletem”, que “elas promovem”,
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