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José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
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. 22,
p
.231-250
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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é um “materialismo dialético”; e a novidade está na unidade de
materialismo e de dialética. Descendo um bocadinho mais ao
fundamental do conteúdo: a historicidade está inscrita no corpo
do real. (— Atenção: essa tese, de alguma maneira, é idealista
e é de Hegel —). A historicidade está inscrita no corpo do real,
só que, esta historicidade — e o Ser, por conseguinte, ou aquilo
que é — tem natureza de matéria, ou a materialidade como
constitutiva, sendo, a partir daí, pensado e pensável todo um
conjunto de atividades e de produtos que, normalmente, — e o
Marx às vezes também usa esta expressão — nós qualificamos
ou designamos como “espirituais”. Esse ponto é fundamental.
Dois outros pontos [também] são fundamentais e já estão nos
Manuscritos de 44
: [1] os humanos fazem parte da própria
materialidade do real; os humanos não estão fora, não estão ao
lado, não estão como espectadores ou como manipulantes; são
“ingredientes” da própria materialidade do real. Reparem que
há muitos textos interessantes nos
Manuscritos de 44
sobre isto
quando o Marx fala da “natureza humana”. “Natureza” com “n”
maiúsculo, digamos assim, Natureza humana, isto é, a Natureza
na sua forma do humano. Repare que, o que está aí e que, depois,
será fundamental para todo esse “materialismo novo” do Marx, é
a compreensão da especificidade da dimensão humana, mas no
interior de uma ontologia que é uma ontologia da materialidade
do Ser, é uma ontologia materialista.
E, ainda, se quiséssemos dar, embora a correr, outra nota [2],
que me parece decisiva para percebermos o “materialismo
novo” do Marx e o “materialismo dialético” do Marx, que é a
compreensão do papel da prática. Isto é: a “prática”, enquanto
transformação material do real não é, ela mesma, também,
como [algo] que, de fora, cai ou incide sobre a materialidade do
Ser, mas é uma transformação operada pelo trabalho, operada
pelos revolucionamentos, operada pelas transformações que os
seres humanos, individual, grupal ou coletivamente fazem, mas
que tudo isso está, por assim dizer, inscrito dentro da própria
materialidade do Ser.
Acho que me prolonguei um bocadinho mais além do que desejava.
Mas, enfim, naquilo que o Marx quis dizer essas são, talvez, as
posições centrais, as novidades do materialismo do Marx. Essa
posição, que, aliás, não é só minha, é um pensamento que
tenho acerca disso, sobre esses textos. Mas também, é possível
encontrar, digamos assim, [outras] pistas para lá chegar.