Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 248

José Barata-Moura... -
Avelino da R. Oliveira e Antonio F. L. Dias
248
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
v
. 9,
n
. 22,
p
.231-250
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
>
Mas nas sociedades contemporâneas, este pilar do cultivo científico
do saber é muito importante. Porque a soberania é a capacidade de
um povo para se dar um destino. E, nas sociedades atuais, de fato,
esta questão da forma científica dos saberes é muito importante
para a maneira como se compreende, para a maneira como se
coloca os problemas, e para as estratégias em que se inscrevem
as ações e os comportamentos. Isso talvez tenha sido um dos
principais problemas.
Agora, brincando um bocadinho, mas sem brincadeira: [isto] não
foi um ensinamento, foi um problema de todos os dias (risos).
Era um problema de todos os dias porque, repare, você tem um
poder, digamos, “de horizonte”, “de quadro”, para, depois, ali,
inscreverem-se todas as mil e uma peripécias que, agora, já dá
para sorrir um pouco, mas que, na altura [na época], com certeza
não dava para sorrir porque é isso o que faz a vida de um Reitor
na direção da vida de uma organização complexa como é a
Universidade de Lisboa.
AD —
Em 1990, a UNESCO reuniu seus Estados-membros, ou parte
deles, e propôs que eles realizassem Educação para Todos (EpT).
Cada Estado deveria levar essa proposta para casa e transformá-
la, digamos, em uma espécie de Projeto ou Plano Nacional de
Educação (PNE). Isso, na América do Sul, teve (e ainda tem) fortes
repercussões. Posso dizer que muitos projetos e planos nacionais
de Educação de governos da America do Sul, nos últimos 23 anos,
foram fortemente marcados por esse ideal de EpT que se tornou
um paradigma para a elaboração de políticas públicas para a área
da Educação.
Muitos críticos marxistas afirmam, porém, que a proposta da
UNESCO de EpT,
exclusivamente
, difunde o ideário e fortalece
práticas capitalistas, e não produz, além disso, nada mais; que,
portanto, a concretização da proposta de EpT do Estado brasileiro,
por exemplo, não produz contradições. Penso que esta é uma
posição dogmática, fechada e, mesmo, antidialética. O senhor
talvez não conheça de perto essas questões, mas peço que o senhor
emita sua opinião sobre essas posições que citei.
JB-M —
Tu estavas a falar e eu a lembrar de uma passagem de
Marx, de 1847, da
Miséria da Filosofia
, em que ele está a criticar
o Proudhon e os “utopistas”. E, as palavras são mais ou menos
estas, mas a ideia é esta de certeza: “aquilo é gente que só vê na
‘miséria’, a miséria. E não vê na ‘miséria’ potencial para a luta e
potencial para a libertação que lá está”.
1...,238,239,240,241,242,243,244,245,246,247 249,250,251,252,253,254,255,256,257,...258
Powered by FlippingBook