Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 220

Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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. 2014.
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pessoas passam, será a educação o grande meio responsável pelo
aprimoramento desse projeto.
A passagem pela infância, em Kant (2003) não é vista como a
necessidade de um retorno contemplativo da bondade originária do
ser como vimos em Rousseau (1995). Ao contrário, é uma infância
que necessita ser humanizada, transformada e, por que não dizer,
emancipada ao se tornar adulta?
Do estudo que realizamos de Kant (2003), percebemos que
tanto o texto que aborda aspectos sobre o
esclarecimento,
quanto
o que aborda questões sobre a própria pedagogia, denotam o fim
último da abordagem kantiana. No primeiro, uma exigência para a
autodeterminação é a maioridade. Somente o homem seguro de si
chega ao esclarecimento (estágio de maioridade). É claro que o autor
alerta para o fato de que chegar a esse estágio não é fácil. Requer
capacidade reflexiva, uso da razão, vontade de não ser determinado
por outrem, superação da condição de menor. Aqui o menor (que
não significa uma idade) não é bem visto. É um estágio de “sono
dogmático”. Kant (2003) também critica o fato de que alguns
homens preferem ficar nesse estágio de menoridade a vida inteira. O
grande
telos
kantiano é, sim, a maioridade. Esta, pela razão, chega
a gozar a liberdade pelo dever intrínseco no ser humano. Logo, se
pudéssemos fazer uma analogia, o infantil (menor) é desprovido
dessas condições racionais. Nele, impera a animalidade e o instinto,
como bem demonstra o segundo texto.
Nesse processo da metafísica da subjetividade o menor,
infantil, não é o fim da pedagogia kantiana, e deve ser educado, o
que significa vencer as primeiras limitações instintivas que trazemos
conosco em nossa infância. De certo modo, entende que pela
educação deve ser transformada essa animalidade em humanidade.
Nesse sentido na obra
que trata da pedagogia,
Kant (2003), deduz
de sua filosofia o modo de educar, com vistas a estabelecer as
bases de uma subjetividade autônoma. A infância recebe contornos,
regras, deveres e condicionamentos voltados exclusivamente para
a afirmação dessa subjetividade metafísica que superarando as
dimensões espontâneas da vida assegura-se na racionalidade como
aporte para as condições de maioridade. A utilização do termo
criança
aponta imediatamente uma conduta, que ela deve tomar. O
fim da pedagogia kantiana é bem claro: educar a infância visando
uma sociedade moralmente melhor.
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