Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
214
C
adernos
de
P
esquisa
: P
ensamento
E
ducacional
, C
uritiba
,
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. 9,
n
. 22,
p
.206-228
maio
/
ago
. 2014.
Disponível em <
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Como ocorre o desenvolvimento dessas concepções de
infância em cada pensador e que relações podemos estabelecer
entre a infância e o conceito de subjetividade moderna é o que
veremos a seguir, tomando por referência os pensadores clássicos
acima referidos que contribuem no sentido de podermos fazer uma
análise, a partir de seus legados. Como as mudanças de paradigmas
não ocorrem de forma efêmera, se fizermos uma leitura atenta,
identificaremos que uma primeira crítica às concepções modernas
de sujeito e de infância já haviam sido antecipadas pelo pensamento
de Michel de Montaigne.
M
ichel
de
M
ontaigne
: E
ducação
e
afeição
da
infância
Ao direcionar à infância um olhar diferente, Michel de
Montaigne 1533-1592) está delineando alguns caracteres de uma
subjetividade que se esforça entre fugir dos métodos rigorosos
do letramento e da decoreba, conclamando uma nova relação de
educação e afeto na fase infantil. Na pesquisa, analisamos dois
ensaios desse pensador, o primeiro, da educação das crianças,
Montaigne (1980), onde o autor, escrevendo à senhora
Diana de
Foux
, Condessa de Gurson, desenvolve argumentos que vão desde
a responsabilidade e o compromisso dos pais com os filhos até o
modelo de educação que eles devem receber. No segundo texto,
também escrito em forma de Ensaio, sobre a afeição dos pais pelos
filhos, (Montaigne, 1980), percebe-se uma reflexão sobre o amor, o
casamento, o testamento e as relações econômicas e afetivas entre
genitores e descendentes. É interessante perceber em ambos os textos
que a preocupação com a infância não é um fim, mas um ponto de
partida para emancipação do adulto, de modo que a subjetividade
por ele desenhada faz parte da postura que, na época, assumiu: é um
pensador cético que reconhece no modelo anterior alguns entraves
para o desenvolvimento da infância; sobre a afeição dos pais pelos
filhos, aponta para contornos típicos de uma infância que necessita
ser educada racionalmente, possibilitando, assim, a afirmação de
um novo sujeito.
Se a subjetividade nascente começa a se desenhar na infância,
urge, em seus escritos, que se postule uma educação que ora prime
pelo desregramento, fugindo da educação clássica aristotélica
e platônica, ora preconize uma relação de afeição que deve sim