Cadernos de Pesquisa - Volume 9 - número 22 - page 218

Infância e filosofia... -
Vilmar A. Pereira e Jaqueline C. Eichenberger
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o
amor
à
infância
Amai a infância, favorecei suas brincadeiras, seus
prazeres, seu amável instinto. Quem de vós não teve
alguma vez saudade dessa época, em que o riso está
sempre nos lábios, e a alma está sempre em paz?
(ROUSSEAU, 1995, p.68).
Um estudo atento da obra
Emílio ou da Educação
de
Rousseau (1995) nos permite perceber que diferente do
pensamento cartesiano, mas participando também do paradigma
da modernidade, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
promove um deslocamento no que tange ao reconhecimento
e ao papel atribuído doravante à infância e à própria noção
de subjetividade. Esse profundo deslocamento começa pela
necessidade de:
Encontrar atrativo na criança é afirmar que o homem
não nasce corrompido, não é marcado de perversidade
intrínseca. Na medida em que a criança representa
um fundo primitivo, um dado imediato do humano, o
valor a ela atribuído, é a própria confiança na natureza
humana. Se a infância é amorável, os vícios e as
infelicidades do homem não vêm com ele próprio, mas
somente das condições das quais vive e, logo, essas
condições, e os hábitos morais que suscitaram, podem
e devem ser transformados. (SNYDERS apud. DEBESSE
& MIALARET, 1977, p.285).
Se o mal não estava na criança, devendo-se amá-la, qual seria
o próximo passo? Conhecê-la. Na verdade, Rousseau (1995) está
propondo um itinerário inverso ao até aqui traçado por Descartes
(1987). Ao invés da busca dessa subjetividade ancorada numa
pretensa razão adulta, será na criança que poder-se-á encontrar o
verdadeiro sujeito, inclusive mais harmonioso:
Para Rousseau, havia que se buscar, no homem, o
homem; e, na criança, a criança. Commaneiras próprias
de olhar e de sentir, a infância seria, ainda, o objeto a
ser descortinado. Substituir o olhar infantil pela razão
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