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Perséctivas político...
Pâmela F. Oliveira e Carlos H. Carvalho
Segundo Cury (2009, p. 89), aceitar “[...] as diferenças e
mesmo as desigualdades a partir do
mérito
conquistado pelo
esforço
individual
de cada qual” supõe que o liberalismo passou
a reger as liberdades civis. Se assim o for, então poderíamos ver
um Estado — o liberal clássico — presente nos avanços relativos
à laicidade como forma de garantir as liberdades civis e protegê-
las, desencorajando ações tendentes a desrespeitá-las. De fato, a
individualidade meritocrática permeou os discursos relativos à difusão
do ensino para todos. A escola contribuiria para a liberdade de todos;
o sucesso dali em diante dependeria de cada um. Francisco Campos
deixa entrever essa postura ao desejar que as crianças, uma vez
diplomadas, “[...] encontrem na vida, que hoje se rasga deante dellas
como um immenso panorama irisado de promessas, novos motivos
e opportunidades”, “[...] cada qual no circulo de sua actividade e do
seu trabalho” (
c ampos
, 1930, p. 127).
O segundo princípio da escola nova de que fala Lourenço
Filho “[...] resulta da compreensão funcional do processo educativo,
quer sob aspecto individual, quer social”; respeita-se o tempo de
desenvolvimento do educando. Esse princípio se mostrou na reforma
Francisco Campos em afirmações como as que se seguem:
A infância tem uma funcção psychogenetica, que é de
preparar para a vida de adulto: infância incompleta,
homem incompleto, infância deformada, homem
deformado. O primeiro cuidado para concorrer no
sentido de desenvolvimento da creança é não apressar
a sua infância ou desconhecê-la, tratando a creança
como siella tivesse não os seus próprios interesses, mas
os interesses do adulto (
campos
, 1930, p. 19).
O terceiro princípio abrange “[...] a compreensão da
aprendizagem simbólica em situações de vida real” e da situação
de ensino sempre como cooperação social, em sua interação com
o meio físico, com a pessoa ou com o grupo. Por fim, o princípio de
que quaisquer que “[...] sejam as características de cada indivíduo
estas serão variáveis, segundo a cultura da família, seus grupos de
vizinhança, de trabalho, recreação, vida cívica e religiosa” (CAMPOS,
p. 125); isso porque a feição cultural e social — por exemplo, os
traços linguísticos — do educando exprime seu meio, suas origens.