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Perséctivas político...
Pâmela F. Oliveira e Carlos H. Carvalho
Para Valdemarim (2010), essa proposição de ensinar
partindo-se da experiência da criança e de que a escola deve
se ligar à vida ganhou contornos mais definidos no século
xx
;
e sua justificação foi elaborada à luz de novas teorias sobre o
conhecimento humano e novos valores sociais diferentes do que
vigorava no século
xix
. Seu significado se torna mais radical,
porque configura uma proposta que pretende alterar as bases
organizacionais e metodológicas da escola. Estreitar a ligação
entre escola e vida — quer dizer, escola e sociedade — significou
alterar a organização curricular e as práticas pedagógicas.
Francisco Campos mostrou sintonia com esses acontecimentos
ao dizer que a escola,
[...] para ser educativa, deve estar em continuidade com
a vida social, de que se constitui em prolongamento
e dependência, pois se destina a transmittir pela
educação os processos sociaes em uso; mas, a escola,
como instrumento educativo, não se limita apenas á
transmissão passiva, senão que transmitte corrigindo,
rectificando, aperfeiçoando e melhorando, de onde a
sua influencia sobre a sociedade, cujas tendências e
aspirações inculca ás creanças não sob a fórma vaga
e impalpavel do ideal, senão sob a fórma de hábitos,
costumes, regras de vida e disciplina da intelligencia
e da vontade ((
campos
, 1930, p. 14).
Lourenço Filho (1964, p. 246) se refere aos princípios
subjacentes ao movimento escolanovista. O primeiro seria “[...]
o respeito à personalidade do educando ou o reconhecimento de
que deverá ele dispor de liberdade”. Nota-se aí um traço básico
da influência liberalista na educação, pois tal liberdade quer dizer
que as conquistas serão alcançadas conforme seja cada educando,
que há de se desenvolver segundo suas próprias capacidades e
recursos, pelo esforço individual. A educação liberalista seria
então “[...] o canal natural (porque psicopedagógico e como tal
pertinente à capacidade do indivíduo) [...]” que cria elites, que
seleciona, pelo “[...] desempenho dos valores individuais de cada
qual, os mais capazes. A chegada ao grau de elite não seria
mais dada nem pelo sangue nem pelo dinheiro, mas pela posse
reconhecida do saber” (Cury, 2001, p. 145).