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O projeto de expansão... -
Leandro Turmena e Maria José Subtil
sociedade como um todo, se torna necessária à manutenção da
divisão social do trabalho e, mais amplamente, à manutenção da
sociedade de classes.
É aí que aos empresários da educação superior tornam-se
promissoras as possibilidades de extrair lucro da desqualificação dos
trabalhadores, pois devido à situação de instabilidade, incertezas,
vulnerabilidade a que eles estão expostos com o aumento do
desemprego, são impulsionados ao mercado de vendas de diplomas
com cursos de curta duração e, a custos reduzidos.
Num país de capitalismo dependente (FERNADES, 1975)
como é o caso do Brasil, a dita sociedade do conhecimento, sob a
ideologia do capital de que quanto mais qualificado for o trabalho,
tanto maior será a produtividade e o desenvolvimento, mascara as
situações reais e concretas. A rigor, a ciência, o conhecimento, é
incorporado à máquina e os processos técnicos para o trabalho são
idealizados via intelectuais orgânicos do capital. Ao trabalhador
basta uma qualificação mínima capaz de manusear a máquina,
isto é, operacionalizar as atividades. Entende-se desta forma que a
qualificação (tecnicista) do trabalhador, na medida em que responde
à lógica do capital, em que o conhecimento (mínimo) esteja voltado
para gerenciar e administrar os interesses burgueses, é uma não-
qualificação.
O trabalhador precisa, para o mercado de trabalho, de uma
qualificação mínima. A ampliação do grau mínimo de escolarização
do trabalho complexo para o ensino superior, dentro da função social
que a escola, especificamente neste caso, a de nível superior tem
assumido historicamente, constitui-se em “(...) mecanismos funcionais
à atual etapa do desenvolvimento capitalista” (FRIGOTTO, 2001,
p.162). A contradição neste caso se dá na medida em que o capital
exige um nível de escolaridade ampliado para o exercício do trabalho
complexo, mas na verdade o que é necessário para a funcionalidade
das empresas produtivas e organizações em geral como também
para instaurar uma mentalidade consumista, é um nível mínimo de
cálculo, leitura e escrita, e o desenvolvimento de determinados traços
socioculturais, políticos e ideológicos (FRIGOTTO, 2001).
A classe trabalhadora agrega um conhecimento para (quem o
conseguir) o ingresso no mercado de trabalho, fragmentado, próprio
do positivismo. Nesta perspectiva, entende-se que a desqualificação
é uma qualificação na ótica do capital e a qualificação é uma