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O projeto de expansão... -
Leandro Turmena e Maria José Subtil
Ou seja, quanto mais capacitado o trabalhador, maiores as suas
chances de ingressar e/ou permanecer no mercado de trabalho. Esta
ideologia está atrelada ao investimento em capital humano. Neste
caso, as relações de poder, de dominação e exploração cedem lugar
à ideologia do mérito, do esforço do indivíduo, da racionalidade e
do dom (FRIGOTTO, 2001). Com a sedução, em grande parte por
essas ideologias, a classe trabalhadora investe mais na melhoria
dos seus níveis de escolarização, buscando assim, qualificação para
o trabalho complexo4. Estes, neste caso, são obrigados a custear
seus estudos em nível superior, já que as vagas disponíveis no ensino
público são insuficientes para o atendimento da demanda (NEVES,
2002, p. 33).
Contrário ao capital comercial que demanda
educação-
mercadoria
, mas ao mesmo tempo se relacionando, a
mercadoria-
educação
é demandada pelo capital industrial. “A educação e o
conhecimento são encarados como insumos necessários à produção
de outras mercadorias, como sói ser no processo produtivo, o capital
industrial tenderá a encarar a prática social educacional como uma
mercadoria-educação” (RODRIGUES, 2007, p. 06). Neste sentido,
a partir da lógica do capital, percebe-se a articulação necessária do
sistema educativo com o sistema produtivo.
Segundo o autor, com relação à
mercadoria-educação
dois
aspectos precisam ser considerados: 1) O grande número de
profissionais graduados favorece o capital industrial, pois cria um
exército de reserva que tende a reduzir os salários da categoria
profissional; 2) Por outro lado, pode criar sérias dificuldades em seu
processo produtivo na medida em que esse exército é constituído
por graduados sem as devidas qualificações exigidas pelo processo
produtivo.
Importante destacar que os empresários industriais mostram-se
preocupados e desconfiam da qualidade da
mercadoria-educação
ofertada pela burguesia de serviços educacionais. Estes, por sua vez,
como fornecedores, estão preocupados em preservar a liberdade
de vender a sua mercadoria aos que dispuserem de condições de
comprá-la, particularmente os trabalhadores. “Reconhecem os
4 De acordo comMarx (1999, p. 66), “Trabalho humano mede-se pelo dispêndio de força de
trabalho simples, a qual, emmédia, todo homem comum, sem educação especial, possui em
seu organismo. (...) Trabalho complexo ou qualificado vale como trabalho simples potenciado
ou, antes, multiplicado, de modo que uma quantidade dada de trabalho qualificado é
igual a uma quantidade maior de trabalho simples”.