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Concepção de homem...
Alessandra Dal Lin e
Anita Helena Schlesener
benefícios da natureza como meio de sobrevivência, para criar
conscientemente a realidade a partir do trabalho. No momento
da objetivação, o homem imprime no objeto produzido suas
necessidades, intencionalidades e subjetividade, o que lhe garante
fazer parte e se reconhecer no seu produto, ou seja, o homem se
auto-produz pelo trabalho. Ao produzir objetos, o trabalhador
produz também riqueza útil que é usufruída pelos demais homens,
criando uma teia de relações sociais, na construção de uma nova
sociedade. O homem aqui é um ser livre, criativo e universal. (MARX,
2004, p.87-92)
Na segunda característica, o homem ao ser condicionado
pela imposição do modelo de produção fabril incorpora ações
mecanizadas que o impedem de manifestar sua subjetividade e
criatividade. Nesse contexto, o homem se sente estranhado do
objeto que produziu, como se fosse algo independente, ainda se
sente estranhado da sua própria atividade de trabalho, ou seja,
como sua ação subjetiva é suprimida o ato da produção ao invés
de tornar-se uma realização pessoal, torna-se uma mercadoria
sem sentido produzida por meio do martírio e sacrifício. Também o
estranhamento acontece em relação aos demais trabalhadores que
de cooperadores e construtores da sociedade acabam se tornando
competidores. (MARX, 2004, p.93-101).
O resultado desse confronto entre o trabalho consciente
e o trabalho estranhado constitui a terceira característica do
homem. Tanto uma forma de trabalho quanto outra constroem
o homem e a sociedade. Assim, entende-se que mesmo quando
o homem é submetido a um modelo de trabalho fragmentado e
unilateral ele não perde sua característica enquanto
ser
livre e
intencional, ou seja, o seu caráter universal é preservado, ainda
que esteja latente. É importante pensar que ao passar da situação
de trabalho socialmente produzido para o trabalho estranhado
o homem estabelece uma relação diferente com sua liberdade,
intencionalidade e criatividade. Em outras palavras, nesse contexto
o homem deverá se construir enquanto
ser
transformador da sua
realidade de trabalho e consequentemente social. A liberdade, a
criatividade não será manifestada somente no objeto produzido,
mas antes, como resultado da superação do trabalho estranhado,
fragmentado e unilateral, que segundo Marx pode acontecer a
partir do comunismo (MARX, 2004, p.102).