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Concepção de homem...
Alessandra Dal Lin e
Anita Helena Schlesener
Do ponto de vista da economia política, a historicidade do
processo econômico e social se perde nas brumas do discurso
abstrato, colocando como pressuposto que suas leis justificam-
se por si só como um processo natural. Os economistas não
as explicam do ponto de vista da propriedade privada, nem do
capitalista e, quando o fazem, suas explicações são abstratas e
obscuras. Assim, a propriedade privada, a separação de trabalho,
capital e terra, o salário, o lucro, a renda de terra e a divisão do
trabalho ganham território no cenário social a partir da exploração
do trabalho.
Marx expõe que o trabalho estranhado não produz somente o
objeto/produto, mas o homem. “O trabalhador encerra a sua vida no
objeto; mas agora ela não pertence mais a ele, mas sim ao objeto”.
Marx entende que a fragmentação imposta pelas condições do
trabalho dividido acaba por delimitar o trabalhador em uma função
unilateral onde “ele não é o que é o produto do seu trabalho. Portanto,
quanto maior este produto, tanto menor ele mesmo é”. A relação
que o trabalhador estabelece com o objeto produzido é exterior e
independente dele “... tornando-se uma potência autônoma diante
dele, que a vida que ele concedeu ao objeto se lhe defronta hostil e
estranha”. (MARX, 2004, p. 81)
A exteriorização do trabalho consiste no não pertencimento
ao seu ser, o trabalhador não tem a possibilidade de expressar sua
intencionalidade no objeto, o que o torna servo do ritmo imposto pelo
sistema fabril, enfim, infeliz ao cumprir sua função de forma forçada
e mecânica. A liberdade é suprimida e o trabalho se defronta com o
trabalhador de forma estranha. O resultado disso é que “o homem
(o trabalhador) só se sente como ser livre e ativo em suas funções
animais, comer, beber e procriar, quando muito ainda habitação,
adornos, etc. e em suas funções humanas só se sente como animal”
(MARX, 2004, p.83).
Essa inversão aqui identificada se explicita em textos posteriores
de Marx, explicitando que as relações que o trabalhador estabelece
no modo de produção capitalista se efetivam como estranhamento
com o objeto, com o trabalho e com os demais homens. A crítica
de Marx, o trabalho estranhado sustenta que o homem é um
ser
consciente, social, livre e, portanto, genérico.
Marx estuda o conceito de ser genérico de Feuerbach, que
estabelece a relação natural do homem com a natureza, onde o